Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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Eu sou saxão. A minha mãe, Erce, também ela saxã, enquanto estava<br />
grávida foi feita prisioneira <strong>de</strong> Uther e tornada escrava pouco antes<br />
<strong>de</strong> eu nascer. Fui retirado da minha mãe quando era criança ainda<br />
bem pequena, mas apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter aprendido a língua saxónica. Mais<br />
tar<strong>de</strong>, muito mais tar<strong>de</strong>, justamente na véspera da rebelião <strong>de</strong> Lancelote,<br />
encontrei a minha mãe e soube que o meu pai era Aelle.<br />
Assim sendo, o meu sangue é genuinamente saxão, e por isso semirreal,<br />
embora por ter sido criado com os Bretões, eu não sinta qualquer afi -<br />
nida<strong>de</strong> com os Sais. Para mim, tal como para Artur ou para qualquer outro<br />
bretão nascido em liberda<strong>de</strong>, os Sais são uma praga que nos foi trazida do<br />
outro lado do Mar Oriental.<br />
De on<strong>de</strong> vieram, ninguém sabe ao certo. Sagramor, que viajou mais do<br />
que qualquer outro comandante <strong>de</strong> Artur, conta-me que a terra dos Saxões<br />
é um lugar distante e oculto pelo nevoeiro com lodaçais e matas, embora<br />
confesse nunca aí ter estado. Apenas sabe que fi ca algures do outro lado do<br />
mar, e que estão a abandoná-la, conforme ele afi rma, porque as terras da<br />
Bretanha são melhores, embora também me tenha constado que o território<br />
dos Saxões está cercado por outros inimigos, igualmente estranhos, que<br />
vêm do extremo mais longínquo do mundo. Mas por uma qualquer razão,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> há cem anos, os Saxões têm atravessado o mar para se apossarem das<br />
nossas terras, e agora <strong>de</strong>têm toda o Leste da Bretanha. Chamámos a esse<br />
território roubado Lloegyr, as Terras Perdidas, e não existe uma única alma<br />
na Bretanha livre que não sonhe em recuperar as Terras Perdidas. Merlim e<br />
Nimue acreditam que essas terras serão recuperadas apenas pelos Deuses,<br />
enquanto Artur <strong>de</strong>seja fazê-lo com a espada. E o meu encargo era dividir os<br />
nossos inimigos para facilitar a tarefa tanto aos Deuses como a Artur.<br />
Viajei no outono quando os carvalhos se tornavam cor <strong>de</strong> bronze,<br />
as faias vermelhas e o frio cobria o amanhecer com uma neblina branca.<br />
Viajei sozinho, já que se Aelle homenageasse a chegada <strong>de</strong> um mensageiro<br />
com a morte, seria então melhor morrer apenas um homem. Ceinwyn<br />
rogara-me que levasse um grupo <strong>de</strong> guerra, mas com que propósito? Um<br />
grupo <strong>de</strong> guerra não me dava esperanças <strong>de</strong> comprometer o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
todo o exército <strong>de</strong> Aelle, e <strong>de</strong>sse modo, quando o vento levou as primeiras<br />
folhas amarelas dos ulmeiros, dirigi-me para leste. Ceinwyn tentara<br />
convencer-me a partir apenas <strong>de</strong>pois do Samain, uma vez que se as invo-<br />
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