Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— e eu apanho-a a partir <strong>de</strong>las, e passo-a para o teu pai, e então todos os<br />
exércitos estarão a espirrar quando os Saxões vierem.<br />
Gwydre meditou no assunto por breves instantes, achou que era um<br />
disparate e puxou a mão do seu pai.<br />
— Por favor! — pediu ele.<br />
— Po<strong>de</strong>s ver connosco, do salão mais alto — insistiu Artur.<br />
— Então posso ir lá ver o urso, pai? Está a fi car bêbado e vão lançar-lhe<br />
os cães. Eu fi co <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um alpendre para me manter seco. Prometo. Por<br />
favor, pai?<br />
Artur <strong>de</strong>ixou-o ir e eu man<strong>de</strong>i Issa vigiá-lo, <strong>de</strong>pois Galaad e eu subimos<br />
para o salão mais elevado do palácio. Um ano antes, quando Guinevere<br />
por vezes ainda visitava este palácio, era elegante e asseado, mas agora<br />
estava abandonado e sujo. Era um edifício romano e Guinevere tentara restaurá-lo,<br />
conferindo-lhe o seu antigo esplendor, mas havia sido saqueado<br />
pelas forças <strong>de</strong> Lancelote durante a rebelião e nada fora feito para reparar os<br />
estragos. Os homens <strong>de</strong> Cuneglas haviam ateado uma fogueira no chão do<br />
salão e o topo dos barrotes <strong>de</strong>formava as pequenas telhas. O próprio Cuneglas<br />
estava <strong>de</strong> pé, junto à ampla janela <strong>de</strong> on<strong>de</strong> olhava fi xa e tristemente<br />
para os telhados <strong>de</strong> colmo e <strong>de</strong> telha <strong>de</strong> Durnovária, ao longo das encostas<br />
<strong>de</strong> Mai Dun, quase escondidos pelas cortinas da chuva.<br />
— Vai levantar, não vai? — perguntou-nos enquanto entrávamos.<br />
— Provavelmente irá piorar — disse Galaad, e nesse mesmo instante<br />
o ribombar <strong>de</strong> um trovão soou a norte e a chuva intensifi cou-se visivelmente,<br />
caindo violentamente nos telhados. A lenha no cume <strong>de</strong> Mai Dun<br />
<strong>de</strong>veria estar encharcada, mas até então só as camadas exteriores estariam<br />
ensopadas, enquanto a ma<strong>de</strong>ira no interior das fogueiras ainda estava<br />
seca. De facto, essa ma<strong>de</strong>ira interior permaneceria seca durante uma<br />
hora ou mais <strong>de</strong>baixo daquela chuva intensa, e a ma<strong>de</strong>ira seca no centro<br />
<strong>de</strong> uma fogueira rapidamente seca a humida<strong>de</strong> das camadas exteriores,<br />
mas se a chuva persistisse noite <strong>de</strong>ntro, então as fogueiras nunca ar<strong>de</strong>riam<br />
convenientemente. — Ao menos a chuva tornará sóbrios os ébrios — observou<br />
Galaad.<br />
O bispo Emrys surgiu à porta do salão com as saias pretas das suas<br />
vestes <strong>de</strong> sacerdote encharcadas e lamacentas. Lançou um olhar preocupado<br />
aos lanceiros pagãos <strong>de</strong> Cuneglas, <strong>de</strong>pois apressou-se a juntar-se a nós<br />
à janela.<br />
— Artur está cá? — perguntou-me.<br />
— Está algures no palácio — respondi, <strong>de</strong>pois apresentei Emrys ao rei<br />
Cuneglas e acrescentei que o bispo era um dos nossos cristãos bons.<br />
— Creio que somos todos bons, Lor<strong>de</strong> Derfel — disse Emrys, fazendo<br />
uma vénia ao rei.<br />
93