Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
preen<strong>de</strong>ra exatamente a magnifi cência do sonho <strong>de</strong> Merlim, e agora quase<br />
me soterrava. Dentro <strong>de</strong> três dias, apenas três dias, os Deuses estariam ali.<br />
— Temos mais <strong>de</strong> quatrocentas pessoas a trabalhar nas fogueiras —<br />
disse-me Gawain com serieda<strong>de</strong>.<br />
— Acredito que sim.<br />
— E marcámos as espirais — continuou ele — com corda <strong>de</strong> fadas.<br />
— Com quê?<br />
— Uma corda, senhor, tecida a partir do cabelo <strong>de</strong> uma virgem e apenas<br />
com um fi o <strong>de</strong> largura. Nimue fi cou no centro e eu marquei o perímetro<br />
com passos e Merlim, o meu senhor, assinalou os meus passos com<br />
pedras <strong>de</strong> gnomos. As espirais tinham <strong>de</strong> fi car perfeitas. Levou uma semana<br />
a fazê-las, porque a corda partia-se constantemente e sempre que isso<br />
acontecia, tínhamos <strong>de</strong> começar <strong>de</strong> novo.<br />
— Afi nal, talvez não fosse uma corda <strong>de</strong> fadas, meu Príncipe? — gracejei<br />
com ele.<br />
— Ah, era, senhor — assegurou-me Gawain. — Foi tecida do meu<br />
próprio cabelo.<br />
— E na Véspera do Samain — perguntei-lhe — acen<strong>de</strong>reis as fogueiras<br />
e esperareis?<br />
— Três horas passadas sobre outras três, senhor, as fogueiras terão <strong>de</strong><br />
ar<strong>de</strong>r, e à sexta hora iniciamos a cerimónia. — E <strong>de</strong>pois, em qualquer altura<br />
essa noite <strong>de</strong>verá tornar-se dia claro, o céu encher-se-á <strong>de</strong> fogo e o ar com<br />
fumo será varrido num re<strong>de</strong>moinho pelo bater das asas dos Deuses.<br />
Gawain havia-me conduzido ao longo do muro norte do forte, mas<br />
agora gesticulava para baixo, indicando o sítio on<strong>de</strong> se erguia o pequeno<br />
Templo <strong>de</strong> Mitras, mesmo a leste dos círculos <strong>de</strong> lenha.<br />
— Po<strong>de</strong>is esperar aqui, senhor — disse ele — enquanto vou buscar<br />
Merlim.<br />
— Ele está longe? — perguntei, pensando que Merlim estivesse num<br />
dos abrigos temporários virados para a extremida<strong>de</strong> leste do planalto.<br />
— Não tenho a certeza on<strong>de</strong> está — confessou Gawain — mas sei que<br />
foi buscar Anbarr e julgo saber on<strong>de</strong> possa estar.<br />
— Anbarr? — perguntei. Eu apenas conhecia Anbarr das histórias em<br />
que ele era um cavalo mágico, um garanhão indomável afamado por galopar<br />
tão velozmente na água como em terra.<br />
— Montarei Anbarr ao lado dos Deuses — disse Gawain, orgulhoso<br />
— e empunharei o meu estandarte contra o inimigo. — Apontou para<br />
o templo on<strong>de</strong> uma enorme ban<strong>de</strong>ira se inclinava sem cerimónia sobre o<br />
baixo telhado. — O estandarte da Bretanha — acrescentou Gawain, e conduziu-me<br />
ao templo on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfraldou o estandarte. Era um vasto quadrado<br />
<strong>de</strong> tecido branco <strong>de</strong>corado com o <strong>de</strong>safi ador dragão vermelho da Dum-<br />
77