Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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cações <strong>de</strong> Merlim resultassem em Mai Dun, certamente não seria necessário<br />
nenhum emissário ir ao encontro dos Saxões, mas Artur não admitiria<br />
qualquer <strong>de</strong>mora. Ele confi ara na traição <strong>de</strong> Aelle e queria uma resposta<br />
do rei saxão, por isso parti, fazendo apenas votos para que sobrevivesse e<br />
regressasse à Dumnónia na véspera do Samain. Levava a minha espada e<br />
tinha um escudo pendurado nas costas, mas não levava mais nenhuma<br />
arma nem armadura.<br />
Não me dirigi <strong>de</strong> imediato para leste, porque essa estrada me levaria<br />
perigosamente para junto do território <strong>de</strong> Cerdic, por isso, rumei para<br />
norte, passei por Gwent, e <strong>de</strong>pois para leste, dirigindo-me para a fronteira<br />
saxónica on<strong>de</strong> Aelle governava. Durante um dia e meio caminhei passando<br />
pelas regiões das ricas quintas <strong>de</strong> Gwent, por casas <strong>de</strong> campo e herda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
cujas chaminés saía fumo. Os campos tinham as marcas lamacentas das patas<br />
dos animais que estavam a ser encerrados, aguardando as matanças do<br />
inverno, e o seu mugido imprimia um tom melancólico à minha viagem. O<br />
ar revelava já os primeiros indícios do inverno e, <strong>de</strong> manhã, o Sol permanecia<br />
baixo e fraco por entre o nevoeiro. Estorninhos juntavam-se em bandos<br />
nos terrenos em pousio.<br />
A paisagem mudava à medida que eu rumava para leste. Gwent era<br />
uma região cristã, e no início passei por gran<strong>de</strong>s igrejas trabalhadas. No<br />
segundo dia, porém, as igrejas eram bastante mais pequenas e as quintas<br />
menos prósperas até por fi m alcançar as terras intermédias, os sítios bravios<br />
on<strong>de</strong> nem Saxões nem Bretões governavam, mas on<strong>de</strong> ambos tinham os<br />
seus terrenos <strong>de</strong> morte. Aqui, as campinas que outrora haviam alimentado<br />
famílias inteiras estavam cheias <strong>de</strong> carvalhos novos, espinheiros-alvar, vidoeiros<br />
e freixos, as casas <strong>de</strong> campo eram ruínas sem telhados e os palácios<br />
esqueletos queimados e hirtos. Todavia, ainda aí viviam pessoas, e quando<br />
certa vez ouvi alguém correr num bosque que fi cava próximo, <strong>de</strong>sembainhei<br />
Hywelbane com medo dos homens sem senhor que se refugiavam<br />
nestes ermos vales, mas ninguém me abordou, até essa tar<strong>de</strong> em que um<br />
grupo <strong>de</strong> lanceiros me barrou o caminho. Eram homens <strong>de</strong> Gwent e, à semelhança<br />
<strong>de</strong> todos os soldados do rei Meurig, traziam vestígios do antigo<br />
uniforme romano: couraças <strong>de</strong> bronze, elmos encimados com plumas <strong>de</strong><br />
pelo <strong>de</strong> cavalo <strong>de</strong> um vermelho-vivo e capas cor <strong>de</strong> ferrugem. O seu chefe<br />
era um cristão <strong>de</strong> nome Carig, que me convidou a entrar na sua fortaleza<br />
situada numa clareira num alto espinhaço com arvoredo. A incumbência<br />
<strong>de</strong> Carig era vigiar a fronteira, e, bruscamente, interrogou-me sobre o que<br />
me levava ali, mas não fez mais perguntas quando lhe disse o meu nome e<br />
que ia ao serviço <strong>de</strong> Artur.<br />
A fortaleza <strong>de</strong> Carig era uma simples paliçada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, no interior<br />
da qual haviam sido construídas duas cabanas cujas lareiras acesas as<br />
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