Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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Galaad havia saído <strong>de</strong> ao pé <strong>de</strong> mim, tinha <strong>de</strong>smontado e agora soltava<br />
as amarras <strong>de</strong> Mardoc. De imediato, a criança começou a gritar pela mãe.<br />
— Nunca consegui habituar-me a crianças barulhentas — disse Merlim<br />
calmamente, <strong>de</strong>pois mudou a escada para que fi casse junto à corda<br />
que prendia Gawain à viga mestra. Subiu os <strong>de</strong>graus <strong>de</strong>vagar. — Não sei<br />
— afi rmou ele enquanto subia com esforço — se os Deuses vieram ou não.<br />
Vós todos esperáveis <strong>de</strong>masiado, e talvez eles já aqui estejam. Quem sabe?<br />
Mas nós acabaremos sem o sangue do fi lho <strong>de</strong> Mordred. — E com isto<br />
serrou, <strong>de</strong>sajeitadamente, a corda que prendia os tornozelos <strong>de</strong> Gawain. O<br />
corpo oscilava <strong>de</strong> tal modo, enquanto ele o soltava, que o cabelo ensopado<br />
<strong>de</strong> sangue batia no bordo do Cal<strong>de</strong>irão, mas assim que a corda se partiu, o<br />
corpo caiu pesadamente no sangue, salpicando e manchando o rebordo do<br />
Cal<strong>de</strong>irão. Merlim <strong>de</strong>sceu da escada <strong>de</strong>vagar, <strong>de</strong>pois or<strong>de</strong>nou aos Escudos<br />
Negros que haviam estado a observar a confrontação que trouxessem os<br />
enormes cestos <strong>de</strong> verga com sal que se encontravam a alguns metros <strong>de</strong><br />
distância. Os homens vazaram o sal para <strong>de</strong>ntro do Cal<strong>de</strong>irão, comprimindo-o<br />
com fi rmeza em torno do corpo arqueado e nu <strong>de</strong> Gawain.<br />
— E agora? — perguntou Artur, embainhando a sua espada.<br />
— Nada — afi rmou Merlim. — Terminou.<br />
— Excalibur? — perguntou Artur.<br />
— Está na espiral mais a sul — disse Merlim, apontando nessa direção<br />
— embora <strong>de</strong>sconfi e que tenhas <strong>de</strong> esperar que as fogueiras se extingam<br />
antes <strong>de</strong> conseguires retirá-la.<br />
— Não! — Nimue havia-se restabelecido o sufi ciente para protestar. O<br />
sangue jorrava do interior da bochecha que fora aberta pelo golpe <strong>de</strong> Artur.<br />
— Os Tesouros são nossos!<br />
— Os Tesouros — disse Merlim, penosamente — foram reunidos e<br />
usados. Agora já nada valem. Artur po<strong>de</strong> fi car com a sua espada. Ele irá<br />
precisar <strong>de</strong>la. — Virou-se e atirou a sua longa faca para a fogueira mais próxima,<br />
<strong>de</strong>pois voltou a virar-se para olhar para os dois Escudos Negros que<br />
acabavam <strong>de</strong> comprimir o conteúdo do Cal<strong>de</strong>irão. O sal tornava-se rosa à<br />
medida que cobria o corpo hediondamente ferido <strong>de</strong> Gawain.<br />
— Na primavera — disse Merlim — virão os Saxões, e nessa altura<br />
veremos se hoje aqui houve alguma magia.<br />
Nimue gritou connosco. Chorou e bradou, cuspiu e amaldiçoou, prometeu-nos<br />
que a morte viria do ar, do fogo, da terra e do mar. Merlim ignorou-a,<br />
mas Nimue nunca estava preparada para aceitar meias-medidas,<br />
e nessa noite ela tornou-se inimiga <strong>de</strong> Artur. Ainda nessa noite começou<br />
a trabalhar em maldições que lhe permitiriam vingar-se dos homens que<br />
haviam impedido a vinda dos Deuses a Mai Dun. Chamou-nos os saqueadores<br />
da Bretanha e prometeu-nos horrores.<br />
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