17.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Galaad havia saído <strong>de</strong> ao pé <strong>de</strong> mim, tinha <strong>de</strong>smontado e agora soltava<br />

as amarras <strong>de</strong> Mardoc. De imediato, a criança começou a gritar pela mãe.<br />

— Nunca consegui habituar-me a crianças barulhentas — disse Merlim<br />

calmamente, <strong>de</strong>pois mudou a escada para que fi casse junto à corda<br />

que prendia Gawain à viga mestra. Subiu os <strong>de</strong>graus <strong>de</strong>vagar. — Não sei<br />

— afi rmou ele enquanto subia com esforço — se os Deuses vieram ou não.<br />

Vós todos esperáveis <strong>de</strong>masiado, e talvez eles já aqui estejam. Quem sabe?<br />

Mas nós acabaremos sem o sangue do fi lho <strong>de</strong> Mordred. — E com isto<br />

serrou, <strong>de</strong>sajeitadamente, a corda que prendia os tornozelos <strong>de</strong> Gawain. O<br />

corpo oscilava <strong>de</strong> tal modo, enquanto ele o soltava, que o cabelo ensopado<br />

<strong>de</strong> sangue batia no bordo do Cal<strong>de</strong>irão, mas assim que a corda se partiu, o<br />

corpo caiu pesadamente no sangue, salpicando e manchando o rebordo do<br />

Cal<strong>de</strong>irão. Merlim <strong>de</strong>sceu da escada <strong>de</strong>vagar, <strong>de</strong>pois or<strong>de</strong>nou aos Escudos<br />

Negros que haviam estado a observar a confrontação que trouxessem os<br />

enormes cestos <strong>de</strong> verga com sal que se encontravam a alguns metros <strong>de</strong><br />

distância. Os homens vazaram o sal para <strong>de</strong>ntro do Cal<strong>de</strong>irão, comprimindo-o<br />

com fi rmeza em torno do corpo arqueado e nu <strong>de</strong> Gawain.<br />

— E agora? — perguntou Artur, embainhando a sua espada.<br />

— Nada — afi rmou Merlim. — Terminou.<br />

— Excalibur? — perguntou Artur.<br />

— Está na espiral mais a sul — disse Merlim, apontando nessa direção<br />

— embora <strong>de</strong>sconfi e que tenhas <strong>de</strong> esperar que as fogueiras se extingam<br />

antes <strong>de</strong> conseguires retirá-la.<br />

— Não! — Nimue havia-se restabelecido o sufi ciente para protestar. O<br />

sangue jorrava do interior da bochecha que fora aberta pelo golpe <strong>de</strong> Artur.<br />

— Os Tesouros são nossos!<br />

— Os Tesouros — disse Merlim, penosamente — foram reunidos e<br />

usados. Agora já nada valem. Artur po<strong>de</strong> fi car com a sua espada. Ele irá<br />

precisar <strong>de</strong>la. — Virou-se e atirou a sua longa faca para a fogueira mais próxima,<br />

<strong>de</strong>pois voltou a virar-se para olhar para os dois Escudos Negros que<br />

acabavam <strong>de</strong> comprimir o conteúdo do Cal<strong>de</strong>irão. O sal tornava-se rosa à<br />

medida que cobria o corpo hediondamente ferido <strong>de</strong> Gawain.<br />

— Na primavera — disse Merlim — virão os Saxões, e nessa altura<br />

veremos se hoje aqui houve alguma magia.<br />

Nimue gritou connosco. Chorou e bradou, cuspiu e amaldiçoou, prometeu-nos<br />

que a morte viria do ar, do fogo, da terra e do mar. Merlim ignorou-a,<br />

mas Nimue nunca estava preparada para aceitar meias-medidas,<br />

e nessa noite ela tornou-se inimiga <strong>de</strong> Artur. Ainda nessa noite começou<br />

a trabalhar em maldições que lhe permitiriam vingar-se dos homens que<br />

haviam impedido a vinda dos Deuses a Mai Dun. Chamou-nos os saqueadores<br />

da Bretanha e prometeu-nos horrores.<br />

112

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!