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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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cabelo e a barba cerrada, parecia um lanceiro saxão, mas ao passar pelas<br />

fogueiras crepitantes, um guerreiro viu a estrela branca <strong>de</strong> cinco pontas do<br />

meu escudo e recordou-se <strong>de</strong> ter visto aquele símbolo no campo <strong>de</strong> batalha.<br />

Um resmoneio sobressaiu do meio do tumulto <strong>de</strong> vozes e risos, ecoando<br />

até todos os homens daquele palácio vociferarem contra mim, ao mesmo<br />

tempo que eu caminhava na direção do estrado on<strong>de</strong> se encontrava a gran<strong>de</strong><br />

mesa. Os guerreiros vociferantes pousaram os seus chifres <strong>de</strong> cerveja e<br />

começaram a bater com as mãos no chão ou nos escudos, <strong>de</strong> tal modo que<br />

o teto alto ecoou com o barulho medonho.<br />

O embate <strong>de</strong> uma lâmina na mesa fez com que o barulho se dissipasse.<br />

Aelle havia-se levantado, e fora a sua espada que lançara pelo ar lascas da<br />

mesa tosca on<strong>de</strong> via uma dúzia <strong>de</strong> homens com pratos empilhados à sua<br />

frente e chifres cheios. La<strong>de</strong>avam-no Cerdic e Lancelote. Lancelote não era<br />

o único bretão presente. Bors, seu primo, persistia ao seu lado numa posição<br />

relaxada enquanto Amhar e Loholt, os fi lhos <strong>de</strong> Artur, ocupavam a<br />

extremida<strong>de</strong> da mesa. Todos eles eram meus inimigos, e eu toquei no copo<br />

<strong>de</strong> Hywelbane e rezei para que tivesse uma morte digna.<br />

Aelle fi tou-me. Conhecia-me sufi cientemente bem, mas saberia ele<br />

que eu era seu fi lho? Lancelote pareceu surpreendido por me ver, chegando<br />

a corar, <strong>de</strong>pois chamou um intérprete com um aceno, disse-lhe algumas<br />

palavras breves e este inclinou-se para Cerdic e sussurrou ao ouvido do<br />

monarca. Cerdic também me conhecia, mas nem as palavras <strong>de</strong> Lancelote<br />

nem o reconhecimento <strong>de</strong> um inimigo alteraram a impenetrável expressão<br />

do seu rosto. Era um rosto <strong>de</strong> eclesiástico, sem barba, queixo estreito e com<br />

uma testa alta e larga. Os seus lábios eram fi nos e o seu cabelo ralo fora<br />

penteado com severida<strong>de</strong> para trás, formando um nó atrás do crânio. Por<br />

outro lado, o rosto banal tornava-se memorável por causa dos seus olhos.<br />

Eram olhos mortiços e cruéis, os olhos <strong>de</strong> um assassino.<br />

Aelle pareceu <strong>de</strong>masiado admirado para dizer alguma coisa. Era muito<br />

mais velho do que Cerdic, <strong>de</strong> facto, passava um ou dois anos dos cinquenta,<br />

o que permitia dizer que se tratava <strong>de</strong> um homem velho, mas tinha ainda<br />

um aspeto formidável. Era alto, bem constituído, e tinha um rosto longo e<br />

severo, o nariz partido, bochechas com cicatrizes e uma barba preta e farta.<br />

Tinha vestida uma bela túnica escarlate e usava um grosso cordão <strong>de</strong> ouro<br />

ao pescoço e mais ouro nos pulsos. Nenhuma joia, porém, conseguia disfarçar<br />

o facto <strong>de</strong> Aelle ser acima <strong>de</strong> tudo um soldado, um belo exemplar dos<br />

guerreiros saxões. Faltavam-lhe dois <strong>de</strong>dos na sua mão direita, cortados em<br />

alguma batalha travada há muito, atrever-me-ia a dizer, on<strong>de</strong> ele consumara<br />

uma vingança sanguinária. Por fi m falou.<br />

— Atreves-te a vir aqui?<br />

— Para vos ver, meu Rei e Senhor — respondi, colocando um joelho<br />

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