17.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Uma morte nunca é sufi ciente — disse Nimue. Ela contornara o<br />

cavalo <strong>de</strong> Artur correndo para tentar alcançar a forca on<strong>de</strong> agora segurava<br />

com fi rmeza a cabeça <strong>de</strong> Mardoc para que Merlim pu<strong>de</strong>sse cortar-lhe a<br />

garganta.<br />

Artur aproximou Llamrei ainda mais da forca.<br />

— E se os Deuses não vierem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> duas mortes consumadas,<br />

Merlim — perguntou ele — quantas mais se seguirão?<br />

— Tantas quantas as necessárias — respon<strong>de</strong>u Nimue.<br />

— E sempre — Artur falou em voz alta, para que todos o pudéssemos<br />

ouvir — que a Bretanha estiver em afl ições, sempre que surgir um inimigo,<br />

sempre que surgir uma peste, sempre que os homens e as mulheres estiverem<br />

assustados, levaremos crianças para o cadafalso?<br />

— Se os Deuses vierem — afi rmou Merlim — jamais haverá pestes,<br />

medos ou guerras.<br />

— E virão eles? — perguntou Artur.<br />

— Vêm a caminho! — gritou Nimue. — Olha! — E apontou para cima<br />

com a sua mão livre. Todos olhámos e eu vi que as luzes no céu se <strong>de</strong>svaneciam.<br />

Os azuis brilhantes obscureciam-se em preto-púrpura, os vermelhos<br />

esfumavam-se e eram indistintos, e as estrelas brilhavam <strong>de</strong> novo para lá<br />

daquelas cortinas que agora se extinguiam.<br />

— Não! — gemeu Nimue — Não! — E lançou o último grito num<br />

lamento que parecia durar para sempre.<br />

Artur havia conduzido Llamrei até à forca.<br />

— Chamas-me o Amherawdr da Bretanha — disse ele a Merlim — e<br />

um imperador tem <strong>de</strong> governar ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser imperador, e eu não governarei<br />

numa Bretanha on<strong>de</strong> as crianças têm <strong>de</strong> morrer para salvar as vidas<br />

dos adultos.<br />

— Não sejas ridículo! — protestou Merlim. — Puro sentimentalismo!<br />

— Eu seria recordado — disse Artur — como um homem justo, e há<br />

já <strong>de</strong>masiado sangue nas minhas mãos.<br />

— Serás recordado — gritou-lhe Nimue — como um traidor, um saqueador,<br />

um cobar<strong>de</strong>.<br />

— Mas não — disse Artur, calmamente — pelos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sta<br />

criança. — E com estas palavras alcançou a forca e com a sua espada cortou<br />

a corda que segurava os tornozelos <strong>de</strong> Mardoc. Nimue gritou quando o<br />

rapaz caiu, <strong>de</strong>pois saltou <strong>de</strong> novo para Artur com os punhos enclavinhados<br />

como garras, mas Artur ripostou batendo-lhe com força na cabeça com a<br />

parte achatada da sua espada, fazendo-a rodopiar aturdida. Conseguiu-se<br />

ouvir com facilida<strong>de</strong> a força do golpe por cima do crepitar das chamas. Nimue<br />

cambaleou, balbuciou, o seu único olho toldou-se, e <strong>de</strong>pois caiu.<br />

— Devia ter feito isto a Guinevere — resmungou Culhwch para mim.<br />

111

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!