17.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ulhada numa grossa lã castanha. Estava pálida, mas aquele rosto altivo e<br />

<strong>de</strong> olhos ver<strong>de</strong>s não per<strong>de</strong>ra uma ponta do seu po<strong>de</strong>r nem do seu orgulho.<br />

— Eu esperava ver-te mais cedo — censurou-me ela.<br />

— Tem sido uma estação rigorosa, senhora — disse eu, <strong>de</strong>sculpando<br />

a minha longa ausência.<br />

— Eu quero saber, Derfel, o que aconteceu em Mai Dun — disse ela.<br />

— Contar-vos-ei, senhora, mas primeiro foi-me or<strong>de</strong>nado que vos entregasse<br />

isto. — Retirei o pergaminho <strong>de</strong> Artur da bolsa colocada no meu<br />

cinto e <strong>de</strong>i-lho. Ela arrancou a fi ta, levantou o selo <strong>de</strong> cera com uma unha<br />

e <strong>de</strong>sdobrou o documento. Leu-o com o auxílio do brilho intenso da luz<br />

refl etida pela neve e que entrava pela janela. Vi o seu rosto comprimir-se,<br />

mas não <strong>de</strong>monstrou nenhuma outra reação. Pareceu-me que lia a carta<br />

segunda vez, <strong>de</strong>pois enrolou-a e atirou-a para um cofre <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

— Então, fala-me <strong>de</strong> Mai Dun — disse ela.<br />

— O que sabeis ao certo? — perguntei-lhe.<br />

— Eu sei aquilo que Morgana escolhe contar-me, e o que essa ca<strong>de</strong>la<br />

escolhe é uma versão da verda<strong>de</strong> do seu Deus miserável. — Falou sufi -<br />

cientemente alto para ser ouvida por alguém que escutasse à porta a nossa<br />

conversa.<br />

— Duvido que o Deus <strong>de</strong> Morgana tenha fi cado <strong>de</strong>cecionado com o<br />

que aconteceu — afi rmei, <strong>de</strong>pois contei-lhe tudo o que acontecera naquela<br />

Véspera do Samain. Quando terminei, ela permaneceu em silêncio, olhando<br />

apenas fi xamente pela janela, para os domínios cobertos <strong>de</strong> neve on<strong>de</strong> uma<br />

dúzia <strong>de</strong> resistentes peregrinos se ajoelhava diante do Espinheiro Sagrado.<br />

Alimentei o fogo com cepos da pilha que se encontrava junto à pare<strong>de</strong>.<br />

— Então Nimue levou Gwydre para o cume? — perguntou Guinevere.<br />

— Ela enviou Escudos Negros para que lho levassem. Na verda<strong>de</strong>,<br />

para que o raptassem. Não foi difícil. A cida<strong>de</strong> estava cheia <strong>de</strong> estranhos e<br />

todo o tipo <strong>de</strong> lanceiros entrava e saía do palácio. — Fiz uma pausa. — Todavia,<br />

tenho dúvidas <strong>de</strong> que ele alguma vez tenha estado verda<strong>de</strong>iramente<br />

em perigo.<br />

— Claro que esteve! — disse ela, bruscamente.<br />

A sua veemência surpreen<strong>de</strong>u-me.<br />

— Era a outra criança que iria ser morta — protestei — o fi lho <strong>de</strong> Mordred.<br />

Ele estava nu, pronto para ser morto, e Gwydre não.<br />

— E se a morte <strong>de</strong>ssa outra criança em nada tivesse resultado? Nessa<br />

altura o que teria acontecido? — perguntou Guinevere. — Julgas que Merlim<br />

não teria pendurado Gwydre pelos tornozelos?<br />

— Merlim não faria isso ao fi lho <strong>de</strong> Artur — respondi, embora, confesso,<br />

não houvesse convicção na minha voz.<br />

— Mas Nimue faria — disse Guinevere. — Nimue mataria todas as<br />

123

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!