17.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

novo, cairia, mas ainda assim agitaria violentamente os seus enormes chifres<br />

para os idólatras, mas eles vencê-lo-iam e escoariam o seu sangue, e<br />

o touro morreria <strong>de</strong>vagar, e o templo encher-se-ia com o cheiro pestilento<br />

dos seus excrementos e do seu sangue. Depois, os idólatras beberiam<br />

o sangue do touro em homenagem a Mitras, tal como ele nos or<strong>de</strong>nara.<br />

Os Cristãos, haviam-me dito, tinham uma cerimónia semelhante, mas eles<br />

afi rmavam que não matavam nada durante os seus ritos, apesar <strong>de</strong> poucos<br />

pagãos acreditarem nisso, já que a morte é o emolumento que <strong>de</strong>vemos aos<br />

Deuses como agra<strong>de</strong>cimento pela vida que eles nos dão.<br />

Permaneci <strong>de</strong> joelhos na escuridão, como um guerreiro <strong>de</strong> Mitras que<br />

vai a um dos seus templos esquecidos, e enquanto rezava, senti o mesmo<br />

cheiro a mar que me recordou o cheiro a algas marinhas e o intenso odor<br />

a sal que invadira as nossas narinas quando Olwen, a Prateada, caminhara<br />

imponente, tão esguia, <strong>de</strong>licada e bela para a arcada <strong>de</strong> Lindinis. Por um<br />

instante pensei que fosse da presença <strong>de</strong> um qualquer Deus, ou talvez que<br />

Olwen, a Prateada, tivesse, ela própria, vindo a Mai Dun, mas nada se moveu;<br />

não ocorreu nenhuma visão, nenhuma pele nua reluziu, apenas continuei<br />

a sentir o leve odor a sal do mar e o suave sussurro do vento no exterior<br />

do templo.<br />

Voltei-me e passei pela porta interior e aí, na sala exterior, o cheiro a<br />

mar tornou-se mais forte. Abri as tampas das caixas com um puxão e levantei<br />

as coberturas <strong>de</strong> serapilheira dos cestos <strong>de</strong> vime. Pensei ter aí encontrado<br />

o motivo do cheiro a mar, mas <strong>de</strong>scobri que dois dos cestos estavam cheios<br />

<strong>de</strong> sal que empe<strong>de</strong>rnira ao ar húmido do outono. Contudo, o cheiro a mar<br />

não provinha do sal, mas <strong>de</strong> um terceiro cesto que estava cheio <strong>de</strong> algas molhadas.<br />

Toquei nelas e lambi o <strong>de</strong>do fi cando com um gosto a água salgada<br />

na boca. Um enorme cântaro <strong>de</strong> barro estava junto do cesto, tapado, e, ao<br />

levantar a tampa, <strong>de</strong>scobri que o pote estava cheio <strong>de</strong> água do mar, provavelmente<br />

para manter as algas húmidas. Remexi <strong>de</strong>ntro do cesto das algas<br />

e encontrei, logo abaixo da superfície, uma camada <strong>de</strong> crustáceos. O peixe<br />

tinha longas, fi nas e elegantes conchas dos dois lados, que fazia lembrar<br />

mexilhão, embora estes fossem um pouco maiores do que os mexilhões e<br />

as suas conchas fossem <strong>de</strong> um branco-acinzentado em vez <strong>de</strong> serem pretas.<br />

Tirei um, cheirei-o e pensei que fosse apenas alguma iguaria que Merlim<br />

gostasse <strong>de</strong> comer. O crustáceo, talvez ressentindo-se do meu toque, abriu<br />

as suas conchas e espichou um esguicho <strong>de</strong> líquido para a minha mão. Voltei<br />

a colocá-lo no cesto e tapei a camada <strong>de</strong> crustáceos vivos com as algas.<br />

Assim que me virei para a porta exterior, planeando aguardar do lado<br />

<strong>de</strong> fora, olhei para a minha mão. Fiquei a fi tá-la durante alguns instantes,<br />

julgando que os meus olhos me enganavam, mas com a ténue luz que entrava<br />

pela porta exterior, não consegui ter a certeza, por isso recuei para a<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!