Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— O vosso professor? — Pareci surpreendido e estava-o realmente,<br />
mas Merlim sempre fora reservado e nunca me havia falado <strong>de</strong> Gawain.<br />
— Não na escrita — disse Gawain — isso ensinaram-mo as mulheres.<br />
Não, Merlim ensinou-me a conhecer o meu <strong>de</strong>stino. — Sorriu envergonhado.<br />
— Ensinou-me a ser puro.<br />
— A ser puro! — Lancei-lhe um olhar curioso. — Sem mulheres?<br />
— Nenhuma, senhor — admitiu, inocentemente. — Merlim insiste.<br />
Pelo menos já não, apesar <strong>de</strong> antes, claro. — A sua voz esmoreceu e ele, <strong>de</strong><br />
facto, corou.<br />
— Não admira — afi rmei — que rezes a pedir céus limpos.<br />
— Não, senhor, não! — protestou Gawain. — Eu rezo a pedir céus<br />
limpos para que os Deuses venham! E quando isso acontecer, eles trarão<br />
Olwen, a Prateada consigo. — Voltou a corar.<br />
— Olwen, a Prateada?<br />
— Ten<strong>de</strong>-la visto, senhor, em Lindinis. — O seu lindo rosto tornou-se<br />
quase etéreo. — Caminha com mais suavida<strong>de</strong> do que uma brisa <strong>de</strong> vento,<br />
a sua pele brilha no escuro e nascem fl ores nas suas pegadas.<br />
— E ela está-vos <strong>de</strong>stinada? — perguntei, reprimindo uma maldosa<br />
pontinha <strong>de</strong> inveja pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> esse espírito ágil e brilhante ser dado ao<br />
jovem Gawain.<br />
— Casar-me-ei com ela quando a minha tarefa estiver terminada —<br />
disse ele com um ar sério — apesar <strong>de</strong> agora o meu <strong>de</strong>ver ser guardar os<br />
Tesouros. Mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> três dias darei as boas-vindas aos Deuses e levá-los-ei<br />
ao encontro do inimigo. Deverei ser eu o libertador da Bretanha.<br />
— Esta jactância ultrajante com toda a calma, como se fosse uma tarefa<br />
vulgar. Fiquei calado, seguindo-o apenas e passando pelo fundo fosso que<br />
se encontra entre o centro <strong>de</strong> Mai Dun e os muros interiores e reparei que o<br />
seu valado estava cheio <strong>de</strong> pequenos abrigos temporários feitos com ramos<br />
e colmo. — Dentro <strong>de</strong> dois dias — Gawain viu para on<strong>de</strong> eu olhava — <strong>de</strong>smancharemos<br />
estes abrigos e atirá-los-emos para as fogueiras.<br />
— Fogueiras?<br />
— Ireis ver, senhor, ireis ver.<br />
Embora no início, quando cheguei ao cume, não tivesse conseguido<br />
perceber o que via. O pico <strong>de</strong> Mai Dun é um espaço alongado e coberto <strong>de</strong><br />
relva on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> abrigar uma tribo inteira com todos os seus haveres em<br />
tempo <strong>de</strong> guerra, mas agora a extremida<strong>de</strong> oeste da colina estava vedada e<br />
gra<strong>de</strong>ada com um complexo arranjo <strong>de</strong> sebes secas.<br />
— Ali! — disse Gawain orgulhoso, apontando para as sebes como se<br />
tivessem sido feitas apenas por ele.<br />
As pessoas que carregavam a lenha eram dirigidas para uma das sebes<br />
mais próximas, para on<strong>de</strong> atiravam os seus molhos e se apressavam a apa-<br />
75