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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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que estivera em muitos escudos <strong>de</strong>fensivos e vira <strong>de</strong>masiados amigos serem<br />

mortos. Arrotou. — Nunca me importei <strong>de</strong> lutar para entregar o trono <strong>de</strong><br />

Dumnónia a meu primo — disse ele — mas nunca quis lutar por um saxão.<br />

E não quis ver-vos ser morto para divertimento <strong>de</strong> Cerdic.<br />

— Mas no próximo ano, senhor — disse eu — estareis a lutar por<br />

Cerdic.<br />

— Estarei? — perguntou-me ele. Pareceu divertido. — Não sei o que<br />

irei fazer no próximo ano, Derfel. Talvez eu parta <strong>de</strong> barco para Lyonesse?<br />

Dizem que aí estão as mulheres mais belas do mundo. Têm cabelos <strong>de</strong> prata,<br />

corpos <strong>de</strong> ouro e não têm língua. — Deu uma gargalhada, <strong>de</strong>pois tirou<br />

outra maçã da bolsa e poliu-a com a manga. — Agora, o meu Rei e Senhor<br />

— disse ele, referindo-se a Lancelote — irá lutar por Cerdic, mas que outra<br />

alternativa tem ele? Artur não o aceitará <strong>de</strong> novo.<br />

Então percebi o que Bors insinuava.<br />

— Artur, o meu Senhor — disse eu, cautelosamente — não tem nenhuma<br />

questão convosco.<br />

— Nem eu com ele — disse Bors com a boca cheia <strong>de</strong> maçã. — Então<br />

talvez nos voltemos a encontrar, Lor<strong>de</strong> Derfel. Foi pena não vos ter encontrado<br />

esta manhã. O meu Rei e Senhor ter-me-ia dado uma bela recompensa<br />

se eu vos tivesse matado. — Sorriu ironicamente e afastou-se.<br />

Duas horas mais tar<strong>de</strong> vi Bors a partir com Cerdic, <strong>de</strong>scendo a colina<br />

on<strong>de</strong> a névoa se dissipava por entre as árvores <strong>de</strong> folhas vermelhas. Uma<br />

centena <strong>de</strong> homens acompanhava Cerdic, a maioria sofrendo as consequências<br />

da noite <strong>de</strong> festim, bem como os homens <strong>de</strong> Aelle que compunham<br />

a escolta dos seus convidados que partiam. Segui atrás <strong>de</strong> Aelle, cujo<br />

cavalo era puxado enquanto ele caminhava ao lado do rei Cerdic e <strong>de</strong> Lancelote.<br />

Imediatamente atrás <strong>de</strong>les caminhavam dois porta-estandartes, um<br />

transportando um bordão com a cabeça <strong>de</strong> touro <strong>de</strong> Aelle salpicada com<br />

sangue e o outro erguendo num mastro a cabeça <strong>de</strong> lobo <strong>de</strong> Cerdic pintada<br />

<strong>de</strong> vermelho e pendurada com a pele esfolada <strong>de</strong> um homem morto.<br />

Lancelote ignorou-me. Bem cedo pela manhã, quando inesperadamente<br />

nos encontrámos perto do palácio, ele apenas fi ngira não me ver e eu não<br />

reagi ao encontro inesperado. Os seus homens haviam assassinado a minha<br />

fi lha mais nova, e apesar <strong>de</strong> eu ter matado os assassinos, teria gostado <strong>de</strong><br />

vingar ainda a alma <strong>de</strong> Dian no próprio Lancelote, mas o palácio <strong>de</strong> Aelle<br />

não era o local indicado para o fazer. Agora, <strong>de</strong> uma cumeada coberta <strong>de</strong><br />

erva acima das margens lamacentas do Tamisa, eu observava Lancelote e os<br />

seus escassos guardas a caminharem na direção dos barcos <strong>de</strong> Cerdic que<br />

os aguardavam.<br />

Só Amhar e Loholt se atreveram a <strong>de</strong>safi ar-me. Os gémeos eram jovens<br />

soturnos que odiavam o pai e <strong>de</strong>sprezavam a mãe. Aos seus próprios<br />

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