Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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lanças nos escudos até todo o céu cinzento se encher com o seu barulho<br />
terrível. Aelle ergueu a mão direita, coberta <strong>de</strong> cicatrizes, e o barulho <strong>de</strong>svaneceu-se.<br />
— Vês, Derfel? — perguntou-me ele.<br />
— Vejo o que haveis escolhido mostrar-me, meu Rei e Senhor — respondi-lhe<br />
evasivo, sabendo exatamente que mensagem estava ele a transmitir-me<br />
com os barcos encalhados e a massa <strong>de</strong> homens armados.<br />
— Agora estou forte — disse Aelle — e Artur está fraco. Po<strong>de</strong> ele<br />
ainda apresentar quinhentos homens? Duvido. Os lanceiros <strong>de</strong> Powys virão<br />
em seu auxílio, mas serão eles sufi cientes? Tenho dúvidas. Eu tenho<br />
mil lanceiros treinados, Derfel, e o dobro <strong>de</strong> homens famintos, que empunharão<br />
um machado para ganharem um metro <strong>de</strong> terra a que possam<br />
chamar seu. E Cerdic tem ainda mais homens, muitos mais, e ele precisa<br />
ainda mais <strong>de</strong>sesperadamente <strong>de</strong> terras do que eu. Ambos precisamos <strong>de</strong><br />
terras, Derfel, ambos precisamos <strong>de</strong> terras, e Artur tem-nas, e Artur está<br />
fraco.<br />
— Gwent tem mil lanceiros — disse eu — e se vós invadir<strong>de</strong>s a Dumnónia,<br />
Gwent acorrerá em seu auxílio. — Eu não estava certo disso, mas<br />
não prejudicaria a causa <strong>de</strong> Artur se eu parecesse confi ante. — Gwent,<br />
Dumnónia e Powys — disse eu — todos lutarão, e há ainda outros que virão<br />
em auxílio do estandarte <strong>de</strong> Artur. Os Escudos Negros lutarão por nós,<br />
e virão lanceiros <strong>de</strong> Gwynedd e Elmet, até mesmo <strong>de</strong> Rheged e <strong>de</strong> Lothian.<br />
Aelle sorriu diante da minha gabarolice.<br />
— A tua lição ainda não terminou, Derfel — disse ele — por isso vem.<br />
— E esporeou <strong>de</strong> novo o cavalo, continuando a subir a colina, mas agora<br />
virava para leste passando por uma mata. Desmontou junto ao bosque,<br />
gesticulou à sua escolta para que permanecesse on<strong>de</strong> estava, <strong>de</strong>pois conduziu-me<br />
ao longo <strong>de</strong> um estreito caminho pantanoso até uma clareira on<strong>de</strong><br />
se encontravam dois pequenos edifícios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Eram pouco maiores<br />
do que cabanas com telhados inclinados <strong>de</strong> colmo e pare<strong>de</strong>s baixas feitas <strong>de</strong><br />
troncos <strong>de</strong> árvores não aparadas.<br />
— Vês? — disse ele, apontando para a empena da cabana mais próxima.<br />
Cuspi para afastar o mal, porque ali, bem alto naquela empena, estava<br />
uma cruz <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Aqui na pagã Lloegyr, estava uma das últimas coisas<br />
que eu alguma vez esperara ver: uma igreja cristã. A segunda cabana, levemente<br />
mais baixa do que a igreja, era sem sombra <strong>de</strong> dúvida os aposentos<br />
do sacerdote, que acorreu à nossa chegada, arrastando-se para fora da porta<br />
baixa da sua choupana. Ele tinha tonsura, usava as vestes negras <strong>de</strong> um<br />
monge e uma barba castanha emaranhada. Reconheceu Aelle e fez-lhe uma<br />
longa vénia.<br />
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