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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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tur não <strong>de</strong>seja governar, e que a Dumnónia precisa <strong>de</strong> um rei cristão. Ele<br />

oferece-se.<br />

— Estupor — disse eu. — O estupor traidor e cobar<strong>de</strong>.<br />

— Artur não po<strong>de</strong> aceitá-lo, claro — disse Emrys — o seu juramento<br />

a Uther garante-o. — Bebeu um pequeno gole <strong>de</strong> hidromel e suspirou apreciadoramente.<br />

— É tão bom estar novamente quente.<br />

— Então, a menos que concedamos o reino a Meurig — afi rmei zangado<br />

— ele não nos ajudará?<br />

— Assim o afi rma. Ele insiste que Deus irá proteger Gwent e que, a<br />

menos que o aclamemos rei, teremos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r Dumnónia sozinhos.<br />

Caminhei para a porta do palácio, afastei a cortina <strong>de</strong> cabedal e olhei<br />

fi xamente para a neve que formava um monte alto nas pontas da nossa<br />

paliçada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

— Haveis falado com o seu pai? — perguntei a Emrys.<br />

— Estive, <strong>de</strong> facto, com Tewdric — disse o bispo. — Fui com Agricola,<br />

que vos manda as melhores saudações.<br />

Agricola fora o senhor da guerra do rei Tewdric, um magnífi co guerreiro<br />

que combatera com uma armadura romana e com uma ferocida<strong>de</strong><br />

arrepiante. Mas agora Agricola era um homem velho, e Tewdric, o seu senhor,<br />

<strong>de</strong>sistira do trono e rapara a cabeça numa tonsura <strong>de</strong> sacerdote, e<br />

<strong>de</strong>ste modo conce<strong>de</strong>ra o po<strong>de</strong>r ao seu fi lho.<br />

— Agricola está bem? — perguntei a Emrys.<br />

— Velho, mas vigoroso. Ele concorda connosco, claro, mas… —<br />

Emrys encolheu os ombros. — Quando Tewdric abdicou do trono, <strong>de</strong>sistiu<br />

do seu po<strong>de</strong>r. Ele diz que não po<strong>de</strong> mudar a opinião do seu fi lho.<br />

— Não o fará — resmunguei, voltando para junto da fogueira.<br />

— Provavelmente não o fará — concordou Emrys. Suspirou. — Eu<br />

gosto <strong>de</strong> Tewdric, mas por enquanto ele está ocupado com outros problemas.<br />

— Que problemas? — perguntei com <strong>de</strong>masiada veemência.<br />

— Ele gostaria <strong>de</strong> saber — respon<strong>de</strong>u Emrys, acanhadamente — se no<br />

céu comeremos como mortais, ou se seremos poupados à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alimentos terrenos. Existe uma crença, <strong>de</strong>veis ter ouvido, que afi rma que os<br />

anjos nada comem, que <strong>de</strong> facto são poupados a todos os vulgares e terrenos<br />

apetites, e o velho rei está a tentar reproduzir esse modo <strong>de</strong> vida. Come<br />

muito pouco, <strong>de</strong> facto, vangloriou-se por certa vez conseguir estar três semanas<br />

inteiras sem <strong>de</strong>fecar e, <strong>de</strong>pois disso, sentir-se muito mais piedoso. —<br />

Ceinwyn sorriu, mas eu nada disse, limitando-me a olhar fi xamente para o<br />

bispo sem acreditar.<br />

Emrys acabou o hidromel.<br />

— Tewdric afi rma — acrescentou ele dubiamente — que passará fome<br />

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