Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Tomou o peso da sua lança, reparando que o meu escudo ainda pendia<br />
da sela do meu cavalo.<br />
— De Derfel, amigo <strong>de</strong> Artur, já ouvi falar — disse ele acusador.<br />
— Também o vês neste instante — afi rmei — e ele tem assuntos a<br />
tratar com Aelle.<br />
— Nenhum bretão tem assuntos a tratar com Aelle — respon<strong>de</strong>u, e os<br />
seus homens resmonearam a sua concordância.<br />
— Eu sou saxão — insisti.<br />
— Então que assunto te traz?<br />
— Cabe ao meu pai ouvi-lo e a mim falar <strong>de</strong>le. Tu nada tens com isso.<br />
Ele virou-se e gesticulou para os seus homens.<br />
— Torná-lo-emos um assunto nosso.<br />
— Como te chamas? — perguntei.<br />
Ele hesitou, <strong>de</strong>pois concluiu que mal nenhum faria revelar o seu nome.<br />
— Ceolwulf — afi rmou — fi lho <strong>de</strong> Eadbehrt.<br />
— Então, Ceolwulf — perguntei-lhe — julgas que o meu pai te recompensará<br />
quando souber que atrasaste a minha viagem? O que pensas que te<br />
dará? Ouro? Ou uma sepultura?<br />
Foi uma pequena artimanha, mas <strong>de</strong>u resultado. Eu não fazia i<strong>de</strong>ia se<br />
Aelle me receberia <strong>de</strong> braços abertos ou se me mataria, mas Ceolwulf teve<br />
sufi ciente medo da ira do seu rei para, <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong>, me <strong>de</strong>ixar passar<br />
e or<strong>de</strong>nar que quatro lanceiros me escoltassem, penetrando nós cada vez<br />
mais nas Terras Perdidas.<br />
E foi assim que viajei por sítios que, durante uma geração, poucos bretões<br />
livres haviam pisado. Aquelas eram as terras que fi cavam no coração<br />
do território do inimigo, e durante dois dias atravessei-as. À primeira vista,<br />
a região parecia ter poucas diferenças em relação à região bretã, uma vez<br />
que os Saxões se haviam apo<strong>de</strong>rado dos nossos campos e amanhavam-nos<br />
<strong>de</strong> forma muito idêntica à nossa, embora eu tivesse reparado que as suas<br />
medas <strong>de</strong> feno eram empilhadas a maior altura e eram também mais quadradas,<br />
e as suas casas mais robustas. As vilas romanas estavam quase todas<br />
<strong>de</strong>sertas, embora aqui e ali algumas herda<strong>de</strong>s ainda se mantivessem<br />
em funcionamento. Ali não havia igrejas cristãs, nem, que eu tivesse visto,<br />
nenhum santuário, apesar <strong>de</strong> termos passado por um ídolo britânico com<br />
algumas oferendas <strong>de</strong> pouca monta na base. Ainda aí viviam bretões e alguns<br />
até possuíam o seu próprio terreno, mas a maioria eram escravos ou<br />
mulheres casadas com saxões. Os nomes dos locais haviam sido todos alterados<br />
e a minha escolta nem tão-pouco sabia como se chamavam na altura<br />
em que os Britânicos governavam. Passámos por Lycceword e Steortford,<br />
<strong>de</strong>pois por Leodasham e Celmeresfort, todos com estranhos nomes saxões<br />
mas lugares prósperos. Estes não eram lares nem quintas <strong>de</strong> invasores, mas<br />
46