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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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— Ele tem <strong>de</strong> morrer! — afi rmou Cerdic lacónico, e todos os seus<br />

partidários no salão murmuraram a sua concordância.<br />

— Não matarei o meu próprio fi lho — disse Aelle — no meu próprio<br />

palácio.<br />

— Então, posso eu fazê-lo? — perguntou Cerdic com azedume. — Se<br />

algum bretão vier ter connosco, terá <strong>de</strong> ser morto. — Proferiu estas palavras<br />

dirigindo-se a todo o palácio. — Isto foi acordado entre nós! — insistiu Cerdic<br />

e os seus homens bradaram a sua aprovação e bateram com os copos das<br />

suas lanças nos escudos. — Essa coisa — afi rmou Cerdic, agitando uma mão<br />

na minha direção — é um saxão que luta por Artur! É um verme, e sabes o<br />

que se faz a um verme! — Os guerreiros pediram a minha morte e os seus<br />

cães juntaram-se ao clamor com uivos e latidos. Lancelote observava-me<br />

com o rosto inexpressivo, enquanto Amhar e Loholt pareciam ansiosos por<br />

me trespassar com a espada. Loholt tinha um ódio especial por mim, porque<br />

eu lhe segurara no braço enquanto o pai <strong>de</strong>cepara a sua mão direita.<br />

Aelle esperou até o tumulto se <strong>de</strong>svanecer.<br />

— No meu palácio — afi rmou, acentuando o possessivo para mostrar<br />

que era ele quem ali mandava e não Cerdic — um guerreiro morre com<br />

a sua espada na mão. Há aqui algum homem que queira matar Derfel armado<br />

com a sua espada? — Olhou para todo o salão, convidando alguém<br />

a <strong>de</strong>safi ar-me. Ninguém o fez, e Aelle baixou os olhos para o rei, seu par.<br />

— Não quebrarei nenhum acordo contigo, Cerdic. Os nossos lanceiros caminharão<br />

lado a lado e nada do que o meu fi lho diga po<strong>de</strong>rá impedir essa<br />

vitória.<br />

Cerdic retirou um pedaço <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> entre os <strong>de</strong>ntes.<br />

— A sua cabeça — disse ele, apontando para mim — fará um belo<br />

estandarte para a batalha. Eu quero que ele morra.<br />

— Então mata-o — disse Aelle com <strong>de</strong>sdém. Podiam ser aliados, mas<br />

existia pouco afeto entre os dois. Aelle ressentia-se com a arrogância do<br />

jovem Cerdic, enquanto este achava que faltava cruelda<strong>de</strong> ao velho.<br />

Cerdic esboçou um sorriso irónico perante o <strong>de</strong>safi o <strong>de</strong> Aelle.<br />

— Eu não — disse ele, calmamente — mas o meu paladino fará o trabalho.<br />

— Baixou os olhos para o salão, encontrou o homem que procurava<br />

e apontou um <strong>de</strong>do. — Liofa! Está aqui um verme. Mata-o!<br />

Os guerreiros aplaudiram <strong>de</strong> novo. Rejubilavam com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um<br />

combate, e sem dúvida que antes <strong>de</strong> a noite terminar, a cerveja que bebiam<br />

causaria mais do que uns tantos combates mortais, mas uma luta até à morte<br />

entre o paladino <strong>de</strong> um rei e o fi lho <strong>de</strong> um outro rei era um divertimento<br />

muito maior do que uma qualquer rixa <strong>de</strong> bêbados e uma diversão muito<br />

mais agradável do que a melodia dos dois harpistas que observavam dos<br />

extremos do salão.<br />

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