Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
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cheia <strong>de</strong> certezas, minha pequenina, não estás? — Merlim troçou <strong>de</strong>la. —<br />
Mas quanto a mim, Derfel, gostaria que isto nunca tivesse sido necessário.<br />
Nós nem tão-pouco sabemos o que é suposto acontecer quando acen<strong>de</strong>rmos<br />
as fogueiras. Talvez os Deuses venham, ou talvez eles aguar<strong>de</strong>m a sua<br />
hora. — Lançou-me um olhar terrível. — Se nada acontecer, Derfel, isso<br />
não signifi ca que nada aconteceu. Compreen<strong>de</strong>s isto?<br />
— Julgo que sim, senhor.<br />
— Duvido que compreendas. Nem tão-pouco sei porque me incomodo<br />
a <strong>de</strong>sperdiçar explicações contigo! É o mesmo que ensinar a um touro os<br />
mais requintados elementos da retórica! Que homem absurdo tu és. Agora<br />
po<strong>de</strong>s ir-te. Já entregaste Excalibur.<br />
— Artur quere-a <strong>de</strong> novo — disse eu, lembrando-me <strong>de</strong> dar a mensagem<br />
<strong>de</strong> Artur.<br />
— Tenho a certeza que sim, e talvez ele a tenha <strong>de</strong> novo quando Gawain<br />
tiver tudo acabado. Ou talvez não. O que importa isso? Deixa-te <strong>de</strong><br />
me preocupar com ninharias, Derfel. E a<strong>de</strong>us. — Seguiu com passos imponentes,<br />
<strong>de</strong> novo zangado, mas parou alguns metros mais adiante e virou-se,<br />
chamando Nimue. — Anda, rapariga!<br />
— Certifi car-me-ei <strong>de</strong> que Derfel parte — disse Nimue, e com estas<br />
palavras pegou-me pelo cotovelo e dirigiu-me ao talu<strong>de</strong> interior.<br />
— Nimue! — gritou Merlim.<br />
Ela ignorou-o, puxando-me pela encosta <strong>de</strong> relva acima para on<strong>de</strong> o<br />
caminho corria ao longo do talu<strong>de</strong>. Olhei fi xamente para os complexos círculos<br />
<strong>de</strong> fogueiras.<br />
— Vocês fi zeram um trabalho imenso — afi rmei <strong>de</strong> modo pouco convincente.<br />
— E tudo será <strong>de</strong>sperdiçado se tu não representares os rituais corretamente<br />
— disse Nimue petulante. Merlim andava zangado comigo, mas,<br />
na maior parte das vezes, a sua ira era fi ngida e surgia e <strong>de</strong>saparecia como<br />
um relâmpago; contudo, a raiva <strong>de</strong> Nimue era profunda e convincente e<br />
tornava mais pequeno o seu rosto branco e em forma <strong>de</strong> cunha. Ela nunca<br />
fora bonita, e a perda do seu olho conferira ao seu rosto um aspeto terrível.<br />
No entanto, havia uma ferocida<strong>de</strong> e uma inteligência nos seus olhares que<br />
a tornavam inesquecível, e agora naquele alto talu<strong>de</strong> com o vento oeste, ela<br />
parecia mais formidável do que nunca.<br />
— Existe algum perigo — perguntei-lhe — <strong>de</strong> o ritual não ser feito<br />
corretamente?<br />
— Merlim é como tu — afi rmou ela zangada, ignorando a minha pergunta.<br />
— É emotivo.<br />
— Disparate — afi rmei.<br />
— E o que sabes tu, Derfel? — disse ela, com brusquidão. — Tens <strong>de</strong><br />
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