17.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acontecer. Se ele não quiser libertar-me, então pe<strong>de</strong>-lhe que me prenda em<br />

Glevum.<br />

Hesitei. Não vi razão para não passar o seu pedido a Artur, mas queria<br />

ter a certeza que ela estava a ser sincera.<br />

— Se Cerdic vier <strong>de</strong> facto nesta direção, senhora — atrevi-me a dizer<br />

— é provável que traga amigos vossos no seu exército.<br />

Ela lançou-me um olhar mortífero. Manteve-o por longos instantes<br />

antes <strong>de</strong> falar.<br />

— Não tenho amigos em Lloegyr — afi rmou, por fi m, friamente.<br />

Hesitei, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>cidi continuar.<br />

— Eu vi Cerdic há menos <strong>de</strong> dois meses — afi rmei — e Lancelote<br />

estava na sua companhia.<br />

Nunca antes eu lhe mencionara o nome <strong>de</strong> Lancelote e ela fez um movimento<br />

seco e brusco com a cabeça como se eu lhe tivesse batido.<br />

— O que estás tu a dizer, Derfel? — perguntou ela, suavemente.<br />

— Estou a dizer, senhora, que Lancelote virá aqui na primavera. Estou<br />

a sugerir, senhora, que Cerdic fará <strong>de</strong>le senhor <strong>de</strong>stas terras.<br />

Ela fechou os olhos, e durante alguns segundos, não tive a certeza se<br />

ria se chorava. Depois vi que era o riso que a fazia estremecer.<br />

— És um tolo — disse ela, olhando novamente para mim. — Tu estás<br />

a tentar ajudar-me! Julgas que amo Lancelote?<br />

— Queríeis que ele fosse rei — afi rmei.<br />

— O que tem isso a ver com o amor? — perguntou ela, <strong>de</strong> forma ridícula.<br />

— Eu quero que ele seja rei, porque ele é um homem fraco, e uma<br />

mulher só po<strong>de</strong> governar neste mundo através <strong>de</strong> um homem fraco como<br />

ele. Artur não é fraco. — Ela respirou bem fundo. — Mas Lancelote é, e talvez<br />

ele governe aqui quando os Saxões vierem, mas se alguém houver que<br />

controle Lancelote, não serei eu, nem nenhuma mulher, mas Cerdic, e esse,<br />

segundo consta, é tudo menos fraco.<br />

Ela levantou-se, passou por mim e arrancou-me a carta das mãos.<br />

Desdobrou-a, leu-a uma última vez, <strong>de</strong>pois atirou o pergaminho para o<br />

meio das chamas. Escureceu, encaracolou-se, <strong>de</strong>pois consumiu-se nas chamas.<br />

— Vai — disse ela, olhando para as labaredas — e diz a Artur que eu<br />

chorei com as suas notícias. É o que ele quer ouvir, por isso diz-lhe. Diz-lhe<br />

que chorei.<br />

Deixei-a. Nos dias que se seguiram, a neve <strong>de</strong>rreteu, mas as chuvas voltaram<br />

e as árvores <strong>de</strong>spidas e escuras gotejavam numa região que parecia<br />

<strong>de</strong>compor-se no <strong>de</strong>sânimo das brumas. O solstício aproximava-se, apesar<br />

<strong>de</strong> o Sol nunca aparecer. O mundo mergulhava num <strong>de</strong>sespero sombrio e<br />

profundo. Esperei pelo regresso <strong>de</strong> Artur, mas ele não me mandou chamar.<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!