Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
os Tesouros da Bretanha estavam reunidos. O Cesto <strong>de</strong> Garanhir, uma travessa<br />
feita <strong>de</strong> salgueiro que levava um pão e alguns peixes, embora o entrelaçado<br />
estivesse então tão esfarrapado que qualquer mulher respeitável há<br />
muito teria <strong>de</strong>stinado o cesto à fogueira. A Trompa <strong>de</strong> Bran Galed era um<br />
chifre <strong>de</strong> boi que enegrecera com o tempo e se lascara nas extremida<strong>de</strong>s orladas<br />
a estanho. A Quadriga <strong>de</strong> Modron partira-se ao longo dos anos e era<br />
tão pequena que só uma criança conseguia andar nela, se, <strong>de</strong> facto, alguma<br />
vez pu<strong>de</strong>sse ser montada <strong>de</strong> novo. O Cabresto <strong>de</strong> Eiddyn era um cabresto<br />
<strong>de</strong> corda puída e rodas <strong>de</strong> ferro ferrugento, que até o mais pobre dos al<strong>de</strong>ãos<br />
hesitaria utilizar. A Faca <strong>de</strong> Laufro<strong>de</strong>dd estava embotada, com uma lâmina<br />
grosseira e tinha um cabo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira partido, enquanto a Pedra <strong>de</strong> Amolar<br />
<strong>de</strong> Tudwal era uma coisa <strong>de</strong>sgastada que qualquer artífi ce se envergonharia<br />
<strong>de</strong> possuir. A Capa <strong>de</strong> Padarn estava coçada e remendada, um trajo <strong>de</strong> pedinte,<br />
ainda assim mais bem conservada do que a Capa <strong>de</strong> Rhegadd, que era<br />
suposto conce<strong>de</strong>r a invisibilida<strong>de</strong> àquele que a envergasse, mas que agora<br />
pouco mais era do que uma teia <strong>de</strong> aranha. O Prato <strong>de</strong> Rhygenydd era uma<br />
escu<strong>de</strong>la em ma<strong>de</strong>ira achatada e partida sem ser pelo uso, enquanto o Quadro<br />
<strong>de</strong> Arremesso <strong>de</strong> Gwenddolau era um pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira velha e empenada<br />
da qual as marcas do jogo quase haviam <strong>de</strong>saparecido com o uso. O<br />
Anel <strong>de</strong> Eluned parecia um vulgar anel <strong>de</strong> guerreiro, os simples círculos <strong>de</strong><br />
metal que os lanceiros gostavam <strong>de</strong> fazer das armas dos seus inimigos mortos,<br />
mas todos nós havíamos <strong>de</strong>itado fora anéis <strong>de</strong> guerreiro com melhor<br />
aspeto do que o Anel <strong>de</strong> Eluned. Apenas dois dos Tesouros tinham algum<br />
valor intrínseco. Um era a Espada <strong>de</strong> Rhyd<strong>de</strong>rch, Excalibur, que fora forjada<br />
no Outro Mundo pelo próprio Gofannon, e o outro era o Cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong><br />
Clyddno Eiddyn. Agora, todos eles, cheios <strong>de</strong> aparato e esplendor, estavam<br />
circundados por fogo para assinalarem o local aos seus Deuses distantes.<br />
O céu continuava a fi car cada vez mais limpo, apesar <strong>de</strong> algumas nuvens<br />
ainda se amontoarem por cima do horizonte a sul on<strong>de</strong>, à medida que<br />
entrávamos nessa noite dos mortos, a luz começava a vacilar. Essa luminosida<strong>de</strong><br />
era o primeiro sinal dos Deuses e, temente a eles, toquei no ferro do<br />
copo <strong>de</strong> Hywelbane. No entanto, os enormes raios <strong>de</strong> luz estavam bem longe,<br />
talvez por cima do mar distante ou talvez mais longe ainda para cima <strong>de</strong><br />
Armórica. Durante uma hora ou mais, a luz varreu o céu a sul, mas sempre<br />
em silêncio. A certa altura, toda uma nuvem pareceu acen<strong>de</strong>r-se a partir do<br />
interior, todos nos sobressaltámos e o bispo Emrys benzeu-se.<br />
A luz distante <strong>de</strong>svaneceu-se, <strong>de</strong>ixando apenas a gran<strong>de</strong> fogueira encolerizada<br />
no interior das muralhas <strong>de</strong> Mai Dun. Era um sinal <strong>de</strong> fogo a<br />
cruzar o Abismo <strong>de</strong> Annwn, uma chama a penetrar na escuridão existente<br />
entre os mundos. Questionei-me sobre o que estariam os mortos a pensar.<br />
Seria uma horda <strong>de</strong> almas-sombra a aglomerar-se em torno <strong>de</strong> Mai Dun<br />
99