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Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro

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sofriam, mas como esta multidão necessitava <strong>de</strong> esperança! As mulheres<br />

elevavam no ar os bebés doentes ou empurravam crianças estropiadas para<br />

diante, e todos ouviam avidamente as histórias milagrosas das aparições<br />

<strong>de</strong> Merlim. Aquela era a terceira noite dos prodígios e já nessa altura tanta<br />

gente queria testemunhar os milagres que nem todos conseguiam entrar no<br />

pátio. Alguns empoleiravam-se no muro por trás <strong>de</strong> mim e outros amontoavam-se<br />

no portão da entrada, mas ninguém invadia a arcada que corria<br />

ao longo <strong>de</strong> três lados do pátio, porque essa passagem la<strong>de</strong>ada com colunas<br />

e resguardada estava protegida por quatro lanceiros, que usavam as suas<br />

longas armas para <strong>de</strong>ter a multidão. Os quatro guerreiros eram Escudos<br />

Negros, lanceiros irlan<strong>de</strong>ses <strong>de</strong> Demétia, o reino <strong>de</strong> Oengus mac Airem, e<br />

eu questionei-me sobre o que fariam eles tão longe <strong>de</strong> casa.<br />

A última réstia <strong>de</strong> Sol extinguiu-se do céu e morcegos passavam em<br />

voos rápidos sobre as tochas enquanto a multidão se instalava nas lajes para<br />

olhar expectante pela porta principal do palácio que fi cava no lado contrário<br />

ao do portão do pátio. De quando em vez, uma mulher soltava um<br />

lamento em voz alta. Crianças choravam e eram aquietadas. Os quatro lanceiros<br />

inclinavam-se nas extremida<strong>de</strong>s da arcada.<br />

Aguardámos. Pareceu-me que esperávamos havia horas e o meu espírito<br />

vagueava, pensando em Ceinwyn e em Dian, a minha fi lha que morrera,<br />

quando <strong>de</strong> repente se ouviu um enorme estrondo <strong>de</strong> ferro no interior<br />

do palácio, como se alguém tivesse <strong>de</strong>sferido um golpe num cal<strong>de</strong>irão com<br />

uma espada. A multidão estremeceu num sobressalto e algumas das mulheres<br />

levantaram-se e, oscilando à luz das tochas, agitaram as mãos no ar e<br />

invocaram os Deuses. Contudo, nenhuma aparição surgiu, permanecendo<br />

fechadas as portas do gran<strong>de</strong> palácio. Toquei no copo <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Hywelbane,<br />

e a espada tranquilizou-me. A intensida<strong>de</strong> da histeria da multidão era<br />

perturbadora, mas não tanto como as próprias circunstâncias da ocasião,<br />

pois eu nunca presumira que Merlim necessitasse <strong>de</strong> audiência para a sua<br />

magia. Na verda<strong>de</strong>, ele <strong>de</strong>sprezava aqueles druidas que juntavam multidões.<br />

«Qualquer trapaceiro consegue impressionar patetas» gostava ele <strong>de</strong><br />

dizer, mas ali, naquela noite, parecia ser ele o único a querer impressionar<br />

os patetas. Tinha a multidão preparada, tinha-a gemebunda e ondulante,<br />

e quando a enorme pancada metálica voltou a soar, todos se levantaram e<br />

começaram a gritar o nome <strong>de</strong> Merlim.<br />

Então as portas do palácio abriram-se e aos poucos a multidão fi cou<br />

silenciosa.<br />

Por breves instantes, a entrada mais não era do que um vácuo escuro,<br />

<strong>de</strong>pois um jovem guerreiro ataviado com a armadura completa <strong>de</strong> combate<br />

caminhou para fora da escuridão, <strong>de</strong>tendo-se no primeiro <strong>de</strong>grau da<br />

arcada.<br />

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