Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fez um gesto para uma ca<strong>de</strong>ira à sua esquerda que um dos seus fi lhos<br />
<strong>de</strong>ixara vaga, e assim me juntei aos inimigos <strong>de</strong> Artur na sua bela mesa. E<br />
banqueteámos.<br />
Depois <strong>de</strong> o festim ter terminado, Aelle levou-me para os seus próprios<br />
aposentos, situados por <strong>de</strong>trás do estrado. Era um quarto enorme e<br />
com um pé direito alto. No seu centro estava uma lareira acesa e a cama<br />
<strong>de</strong> peles encontrava-se por baixo da empena. Ele fechou a porta on<strong>de</strong><br />
colocara guardas, <strong>de</strong>pois fez-me sinal para que me sentasse numa arca<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira junto à pare<strong>de</strong> enquanto ele caminhou para o lado oposto do<br />
quarto, <strong>de</strong>sapertou as ceroulas e urinou para um buraco fundo aberto no<br />
chão <strong>de</strong> terra.<br />
— Liofa é rápido — disse-me ele enquanto urinava.<br />
— Muito.<br />
— Pensei que te venceria.<br />
— Não é sufi cientemente rápido — respondi — ou então a cerveja<br />
tornou-o mais lento. Agora cuspi nela.<br />
— Cuspo em quê? — perguntou meu pai.<br />
— Na vossa urina. Para afastar a má sorte.<br />
— Os meus Deuses não dão importância à urina nem ao cuspe, Derfel<br />
— afi rmou divertido. Ele convidara dois dos seus fi lhos a irem ao quarto e<br />
ambos, Hrothgar e Cyrning, me olhavam com curiosida<strong>de</strong>. — Então que<br />
mensagem — perguntou Aelle — me envia Artur?<br />
— Porque havia ele <strong>de</strong> enviar alguma?<br />
— Porque <strong>de</strong> outro modo não estarias aqui. Julgas que foste feito por<br />
um tolo, rapaz? Então, o que quer Artur? Não, não digas, <strong>de</strong>ixa-me adivinhar.<br />
— Apertou o cordão que lhe segurava as ceroulas, <strong>de</strong>pois foi sentar-se<br />
na única ca<strong>de</strong>ira que havia no quarto, uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> braços romana feita<br />
em ma<strong>de</strong>ira preta e com incrustações <strong>de</strong> marfi m, embora já lhe faltassem<br />
muitas. — Ele oferece-me tranquilida<strong>de</strong> na minha região, é isso — perguntou<br />
Aelle — se eu atacar Cerdic no próximo ano?<br />
— Sim, meu senhor.<br />
— A resposta é não — resmungou ele. — Um homem oferece-me o<br />
que já é meu! Que oferta é essa?<br />
— Uma paz perpétua, meu Rei e Senhor — disse eu.<br />
Aelle sorriu.<br />
— Quando um homem promete algo para sempre, está a proce<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>scuidadamente com a verda<strong>de</strong>. Nada é para sempre, rapaz, nada. Diz a<br />
Artur que os meus lanceiros marcharão com Cerdic no próximo ano. —<br />
Deu uma gargalhada. — Desperdiçaste o teu tempo, Derfel, mas estou con-<br />
58