Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
Tradução de Ana Faria e Marta Couceiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— Para mim — disse ele — os cristãos bons são aqueles que não se<br />
revoltam contra Artur.<br />
— Foi uma rebelião? — perguntou Emrys. — Penso que foi uma loucura,<br />
Lor<strong>de</strong> Derfel, levada a cabo por uma <strong>de</strong>voção exagerada, e atrevo-me<br />
a dizer que o que Merlim está hoje a fazer é justamente a mesma coisa. Desconfi<br />
o que ele irá fi car <strong>de</strong>sapontado, tal como a minha pobre gente fi cou<br />
<strong>de</strong>sapontada no ano passado. Mas no <strong>de</strong>sapontamento <strong>de</strong>sta noite, o que<br />
po<strong>de</strong>rá acontecer? É por isso que aqui estou.<br />
— O que irá acontecer? — perguntou Cuneglas.<br />
Emrys encolheu os ombros.<br />
— Se os Deuses <strong>de</strong> Merlim não aparecerem, meu Rei e Senhor, quem<br />
irá ser censurado? Os Cristãos. E quem será trucidado pela populaça? Os<br />
Cristãos. — Emrys fez o sinal da cruz. — Eu quero que Artur prometa proteger-nos.<br />
— Estou certo que ele o fará <strong>de</strong> bom grado — afi rmou Galaad.<br />
— A vós, bispo — acrescentei — ele fá-lo-á. — Emrys havia permanecido<br />
fi el a Artur, e era um homem bom, ainda que fosse tão cauteloso<br />
no seu conselho como era pesado no seu velho corpo. Tal como eu, o bispo<br />
era um dos membros do Conselho Real, o corpo que aparentemente<br />
aconselhava Mordred, apesar <strong>de</strong> nessa altura, em que o nosso rei estava<br />
feito prisioneiro em Lindinis, o Conselho raramente se reunir. Artur recebia<br />
os conselheiros em privado, <strong>de</strong>pois tomava as suas próprias <strong>de</strong>cisões,<br />
mas as únicas que tinham <strong>de</strong> facto <strong>de</strong> ser tomadas eram as que preparavam<br />
a Dumnónia para a invasão saxónica, e todos nós estávamos satisfeitos por<br />
<strong>de</strong>ixar Artur carregar esse fardo.<br />
Um raio <strong>de</strong> luz rompeu por entre as nuvens cinzentas, e um instante<br />
<strong>de</strong>pois o ribombar <strong>de</strong> um trovão soou tão alto que involuntariamente todos<br />
estremecemos. A chuva, já intensa, <strong>de</strong> repente intensifi cou-se ainda mais,<br />
batendo furiosamente nos telhados e escorrendo em riachos <strong>de</strong> água lamacenta<br />
pelas ruas e veredas <strong>de</strong> Durnovária. Poças <strong>de</strong> água espalharam-se<br />
pelo chão do salão.<br />
— Talvez — observou Cuneglas friamente — os Deuses não queiram<br />
ser evocados?<br />
— Merlim diz que eles estão muito longe — disse eu — por isso esta<br />
chuva não é obra sua.<br />
— O que prova, sem dúvida, que um Deus maior está por <strong>de</strong>trás da<br />
chuva — argumentou Emrys.<br />
— A vosso pedido? — questionou Cuneglas com azedume.<br />
— Eu não rezei para que chovesse, meu Rei e Senhor — afi rmou<br />
Emrys. — De facto, se vos aprouver, rezarei para que a chuva cesse.<br />
E com estas palavras fechou os olhos, abriu bem os braços e levantou a<br />
94