29.04.2013 Views

Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar

Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar

Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

83<br />

As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação, compreensão, conhecimento, sentido,<br />

encontram-se, segundo Smolka (2004), ancoradas nas práticas sociais, nas<br />

relações interpessoais que transcorrem n<strong>uma</strong> experiência partilhada, mas que<br />

nunca é igual a todos, e na história <strong>de</strong>stas relações, que se faz possível na/pela<br />

dimensão do discurso – enquanto linguagem em seu funcionamento – daquelas<br />

práticas. Assim, a autora argumenta:<br />

“Nessa trama <strong>de</strong> relações, corpo e palavra são signos, que se <strong>de</strong>stacam<br />

<strong>de</strong>ntre os outros. Mutuamente constitutivos, corpo e palavra significam<br />

(Bakhtin, Peirce). Po<strong>de</strong>ríamos dizer que aqui se encontra o locus da<br />

constituição do sujeito: corpo marcado - <strong>de</strong>stacado, nomeado, constituído<br />

como tal - pela linguagem. Pela produção do signo na relação com o outro,<br />

po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r como as sensações e a sensibilida<strong>de</strong> se tornam<br />

significativas; como os movimentos se tornam gestos; como o corpo<br />

expressivo passa a significar. Ele significa para o outro e, nesse movimento,<br />

passa também a significar para si próprio. Impossível a pessoa relacionar-se<br />

diretamente consigo mesma. Indiretamente é possível. E essa via mediada se<br />

faz pelo signo. Por isso dizemos que, no homem, a dimensão social é<br />

necessariamente semiótica. É a dimensão natural, orgânica, biológica,<br />

investida, transformada, redimensionada pela vida <strong>de</strong> relação, pelos <strong>modos</strong> e<br />

condições <strong>de</strong> produção, pela cultura” (p.45).<br />

Como compreen<strong>de</strong>r as emoções h<strong>uma</strong>nas nessa trama? Como<br />

compreen<strong>de</strong>r os afetos, sentimentos, emoções que emergem num movimento que<br />

se torna gesto, signos passíveis <strong>de</strong> interpretação e, que no entanto trazem o que<br />

há <strong>de</strong> mais singular, único, subjetivo?<br />

Junto com movimento, para Wallon, a emoção é a expressão da vida, a<br />

partir do biológico. E no entanto, o que seria a emoção sem o corpo expressivo, o<br />

movimento significativo, o gesto interpretado, a palavra, que torna possível<br />

<strong>de</strong>signar, <strong>conceber</strong>, (re) conhecer, não só ela, a emoção, mas o próprio sujeito que<br />

se emociona. A emoção não se limita ao que está sendo expresso, mas significa<br />

na relação com o outro. O biológico se transforma em sócio-histórico, como<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Vigotski. Os corpos expressivos vão se alimentando, vão se constituindo<br />

na cultura, vão sendo impregnados pelos signos, historicamente produzidos, ao<br />

mesmo tempo em que são expressões, manifestações <strong>de</strong> um sujeito.<br />

As emoções não são apenas sinais observáveis que têm a ver simplesmente<br />

com os automatismos e a expressivida<strong>de</strong>/expressão. O choro, nem sempre

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!