Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
67<br />
A partir daí, levanta a questão dos símbolos, que segundo o autor sendo<br />
criados justamente pelo que apontam fora <strong>de</strong> si mesmo, “são coisas que orientam<br />
o outro, não para si, mas para outra coisa”. Entretanto, Maturana enfatiza a<br />
questão da experiência, do operar h<strong>uma</strong>no na linguagem <strong>de</strong> maneira que os signos<br />
e símbolos acabam sendo <strong>de</strong>finidos simplesmente como resultados <strong>de</strong>sse operar.<br />
Para o autor, tal questão (signos/símbolos) é algo secundário, <strong>de</strong> modo que é<br />
preciso haver a linguagem para que surjam signos e regras (id., ibid., p. 39).<br />
A ênfase no caráter relacional, na complexida<strong>de</strong> das relações que se<br />
estabelecem entre os seres; o lugar que a linguagem, tomada como linguajar,<br />
assume no quadro <strong>de</strong> referência do autor; os fenômenos (como o ego, a psique e a<br />
consciência) que emergem nesta dinâmica <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nações consensuais <strong>de</strong><br />
conduta; po<strong>de</strong> remeter, em princípio, a <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproximação <strong>de</strong>ssa<br />
perspectiva da “Biologia do Conhecimento” <strong>de</strong> Maturana com <strong>uma</strong> perspectiva<br />
bakhtiniana, que postula o princípio da dialogia, como fundamental para o<br />
entendimento das relações e manifestações h<strong>uma</strong>nas.<br />
No entanto, com relação a esses aspectos, a perspectiva do materialismo<br />
histórico-dialético marca <strong>uma</strong> importante diferença. Tanto para Bakhtin quanto<br />
Vigotski, a questão da linguagem e a problemática da significação são concebidas<br />
e formuladas <strong>de</strong> maneira radicalmente diferente. A emergência do signo e a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significação, são primordiais no funcionamento psíquico,<br />
constitutivos <strong>de</strong>sse funcionamento. Nesse particular, vale ressaltar aqui a<br />
contribuição <strong>de</strong> autores como Luria, Vigotski e Pino, especialmente em relação à<br />
problematização da linguagem, do simbólico, da sinalética animal e da semiótica,<br />
que remetem a profícuas discussões.<br />
Ao problematizar a questão da polifonia no romance <strong>de</strong> Dostoiévski, por<br />
exemplo, Bakhtin (1997) ressalta seu caráter profundamente dialógico e afirma<br />
que:<br />
“não se constrói como o todo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> consciência que se assumiu, em forma<br />
objetificada, outras consciências mas como o todo da interação entre várias<br />
consciências <strong>de</strong>ntre as quais nenh<strong>uma</strong> se converteu <strong>de</strong>finitivamente em<br />
objeto da outra” (p. 17).