Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
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voltados para a <strong>sobre</strong>vivência 57 . De maneira que em organismos com mecanismos<br />
que viabilizam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentir emoções, o que equivale a ter sentimentos,<br />
essas emoções impactam a mente <strong>de</strong> maneira imediata, em relação ao que<br />
acontece no momento presente apenas. Contudo, em organismos que possuem<br />
consciência, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber que têm sentimentos, há ainda um outro nível <strong>de</strong><br />
regulação. Pois, a consciência na medida em que permite que os sentimentos<br />
sejam conhecidos pelo organismo, promove internamente o impacto da emoção no<br />
organismo (corpo-mente), permitindo que esta, através do sentimento, permeie o<br />
processo <strong>de</strong> pensamento, ampliando consi<strong>de</strong>ravelmente as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
reação adaptativa 58 .<br />
Em s<strong>uma</strong>, o autor distingue emoção e consciência como fenômenos<br />
diferentes e afirma que o mecanismo biológico subjacente à emoção é<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da consciência. No entanto, são fenômenos que estão interligados<br />
na medida em que asseguram a <strong>sobre</strong>vivência do organismo.<br />
Damásio aponta que as emoções, tendo <strong>uma</strong> dimensão interna das<br />
mudanças nos estados corporais experimentados apenas pelos sujeitos, possuem<br />
ainda <strong>uma</strong> dimensão externa na medida em que muitos “sinais” po<strong>de</strong>m ser<br />
observados por quem está <strong>de</strong> fora, vão além <strong>de</strong> sua essência, portanto 59 . Contudo,<br />
ao voltar-se para o que acontece no organismo, vejamos, como o autor elabora<br />
<strong>sobre</strong> o assunto.<br />
57 “Em organismos equipados para sentir emoções, ou seja, para ter sentimentos, as emoções têm um impacto<br />
<strong>sobre</strong> a mente, no momento que ocorrem, no aqui e agora. Mas em organismos equipados com consciência,<br />
ou seja, capazes <strong>de</strong> saber que têm sentimentos, existe ainda outro nível <strong>de</strong> regulação. A consciência que<br />
permite os sentimentos sejam conhecidos e, assim promove internamente o impacto da emoção, permite que<br />
ela, por intermédio do sentimento, permeie o processo <strong>de</strong> pensamento. Por fim, a consciência, torna possível<br />
que qualquer objeto seja conhecido – o “objeto” emoção e qualquer outro objeto – e, com isso, aumenta a<br />
capacida<strong>de</strong> do organismo para reagir <strong>de</strong> maneira adaptativa, atento às necessida<strong>de</strong>s do organismo em<br />
questão.<br />
58 Desse modo, além da emoção, especificamente <strong>de</strong>scrita como o conjunto <strong>de</strong> reações (estados químicos e<br />
neurais), é preciso que ocorram duas etapas adicionais antes <strong>de</strong> <strong>uma</strong> emoção ser conhecida: “a primeira é o<br />
sentimento, a transformação em imagem das mudanças que acabamos <strong>de</strong> examinar. A segunda é a aplicação<br />
da consciência central a todo um conjunto <strong>de</strong> fenômenos. Conhecer <strong>uma</strong> emoção – sentir um sentimento – só<br />
ocorre nesse ponto” (Damásio, 2001:95).<br />
59 Com base em importantes consi<strong>de</strong>rações acerca do mecanismo neural subjacente às emoções secundárias<br />
Damásio chega ao que concebe como essência da emoção: “a coleção <strong>de</strong> mudanças no estado do corpo que<br />
são induzidas n<strong>uma</strong> infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> órgãos por meio das terminações das células nervosas sob o controle <strong>de</strong> um<br />
sistema cerebral <strong>de</strong>dicado, o qual respon<strong>de</strong> ao conteúdo dos pensamentos relativos a <strong>uma</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
entida<strong>de</strong> ou acontecimento. Muitas das alterações do estado do corpo – na cor da pele, postura corporal e<br />
expressão facial, por exemplo – são efetivamente perceptíveis para um observador externo. (...) Existem<br />
alterações do estado do corpo que só são perceptíveis pelo dono <strong>de</strong>sse corpo. Mas as emoções vão além <strong>de</strong><br />
sua essência” (Damásio, 1996: 168).