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Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar

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Afirmava que “o pensamento tem origem na esfera das motivações, a qual inclui<br />

inclinações, necessida<strong>de</strong>s, interesses, impulso, afeto e emoção” (Vigotski, p.76).<br />

Observava que quando se manifesta um processo psicológico alterado, um<br />

distúrbio, um quadro <strong>de</strong> esquizofrenia, ocorre <strong>uma</strong> <strong>de</strong>sintegração dos sistemas<br />

mais complexos que, são alcançados com a vida coletiva, tais como pensamento,<br />

e, embora os afetos não mu<strong>de</strong>m, acabam por per<strong>de</strong>r a função que<br />

<strong>de</strong>sempenhavam nestes sistemas.<br />

Para o autor, a organização da inteligência se dá n<strong>uma</strong> relação dinâmica, <strong>de</strong><br />

interfuncionalida<strong>de</strong>, entre afeto e intelecto, <strong>de</strong> modo que um dos maiores <strong>de</strong>feitos<br />

da psicologia tradicional, é a separação entre os aspectos intelectuais e os<br />

aspectos afetivos, volitivos. Coloca-se <strong>de</strong>sse modo, a superação <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

perspectiva dualista <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento h<strong>uma</strong>no em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> perspectiva<br />

que não se resume simplesmente à junção <strong>de</strong> corpo e mente, matéria e espírito,<br />

mas que se constitui n<strong>uma</strong> abordagem sistêmica (Oliveira, 1992).<br />

Assim sendo, em relação aos afetos, Vigotski (1999) enfatiza que a forma <strong>de</strong><br />

pensar, que junto com o sistema <strong>de</strong> conceitos nos foi (im)posta pelo meio que nos<br />

ro<strong>de</strong>ia inclui também nossos sentimentos e emoções:<br />

“não sentimos simplesmente: o sentimento é percebido por nós sob forma <strong>de</strong><br />

ciúme, cólera, ultraje, ofensa. Se dizemos que <strong>de</strong>sprezamos alguém, o fato<br />

<strong>de</strong> nomear os sentimentos faz com que estes variem, já que mantêm <strong>uma</strong><br />

certa relação com nossos pensamentos. Com eles suce<strong>de</strong> algo parecido ao<br />

que ocorre com a memória, quando se transforma em parte interna do<br />

processo do pensamento e começa a ser <strong>de</strong>nominada memória lógica. Assim<br />

como nos é impossível distinguir on<strong>de</strong> termina a percepção superficial e on<strong>de</strong><br />

começa a compreensão em relação a um objeto <strong>de</strong>terminado (na percepção<br />

estão sintetizadas, fundidas, as particularida<strong>de</strong>s estruturais do campo visual e<br />

da compreensão), também no nível afetivo, nunca experimentamos os ciúmes<br />

<strong>de</strong> maneira pura, pois ao mesmo tempo estamos conscientes <strong>de</strong> suas<br />

conexões conceituais”(p. 126).<br />

Vigotski (1999) ressalta, assim, a interfuncionalida<strong>de</strong> entre afeto e intelecto,<br />

n<strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> dupla afetação, num processo <strong>de</strong> interconstituição. E afirma<br />

também que “os processos mentais superiores são processos mediados por<br />

sistemas simbólicos, principalmente a linguagem, que fornece os conceitos e as

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