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Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar

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voluntário. Em <strong>de</strong>corrência da natureza da experiência h<strong>uma</strong>na, um amplo<br />

espectro <strong>de</strong> estímulos e situações se associam aos estímulos inatamente<br />

selecionados para causar emoções. Assim sendo, as reações a esse amplo<br />

espectro <strong>de</strong> estímulos e situações po<strong>de</strong>m ser filtradas por um processo <strong>de</strong><br />

avaliação pon<strong>de</strong>rada 22 .<br />

Damásio (1996) aventa a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “modulação na maquinaria<br />

básica das emoções”, ressaltando a importância <strong>de</strong> se estudar as emoções n<strong>uma</strong><br />

perspectiva <strong>de</strong>nominada pelo autor como “história individual”. Tal perspectiva<br />

assim se coloca porque preten<strong>de</strong> esclarecer as diferenças entre as emoções que<br />

experienciamos na infância e as emoções que experienciamos em adultos. Propõe<br />

então, <strong>uma</strong> diferenciação <strong>de</strong>nominando as emoções “iniciais” <strong>de</strong> emoções<br />

primárias e as emoções “adultas” <strong>de</strong> emoções secundárias (p.160).<br />

Admitindo as emoções como fundamentais para a racionalida<strong>de</strong>, discutindoas<br />

em seu funcionamento neurológico, como processos cognitivos, Damásio<br />

procura <strong>uma</strong> explicação que vá além dos instintos e impulsos, como um processo<br />

diferenciado nos homens e animais? Vejamos.<br />

Ao discutir e apresentar o conceito <strong>de</strong> emoções primárias o autor, se coloca<br />

<strong>uma</strong> interrogação que consi<strong>de</strong>ramos crucial por apontar importantes indícios<br />

acerca da forma como compreen<strong>de</strong> tal conceito: “Até que ponto se encontram as<br />

reações emocionais “instaladas”∗ no momento do nascimento?” 23 .<br />

Damásio afirma que para que tal estado programado <strong>de</strong> reação emocional<br />

se instale, para provocar <strong>uma</strong> resposta do corpo, não é preciso reconhecer um<br />

urso, <strong>uma</strong> cobra ou <strong>uma</strong> águia como tal, nem mesmo saber exatamente o que<br />

para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calma, e um rosto plácido?“ (James<br />

apud Damásio, p.158).<br />

22 Tal processo constitui um “filtro reflexivo e avaliador” que “introduz a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variação na proporção<br />

e intensida<strong>de</strong> dos padrões emocionais preestabelecidos e produz, com efeito, <strong>uma</strong> modulação na maquinaria<br />

básica das emoções intuída por James” (Damásio, 1996: 159).<br />

∗ Wired, no original, palavra que se refere aos fios elétricos com que se instalam circuitos num aparelho<br />

eletrônico. O termo é usado correntemente com referência à “instalação” <strong>de</strong> circuitos cerebrais e processos<br />

mentais. (N. T.)<br />

23 Ao que ele respon<strong>de</strong>: “Eu diria que não é forçoso que os animais ou os seres h<strong>uma</strong>nos se encontrem<br />

inatamente instalados para ter medo <strong>de</strong> ursos ou <strong>de</strong> águias (embora alguns animais e seres h<strong>uma</strong>nos possam<br />

encontrar-se ativados para ter medo <strong>de</strong> aranhas e cobras). Uma hipótese que acredito não levantar nenh<strong>uma</strong><br />

dificulda<strong>de</strong> é a <strong>de</strong> que estamos programados para reagir com <strong>uma</strong> emoção <strong>de</strong> modo pré-organizado quando<br />

certas características dos estímulos, no mundo ou nos nossos corpos, são <strong>de</strong>tectados individualmente ou em<br />

conjunto (tamanho, movimento, dor)”(Damásio, 1996: 160).

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