Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
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A perspectiva <strong>de</strong> Vigotski postula que a idéia <strong>de</strong> mediação está<br />
indissoluvelmente vinculada à <strong>de</strong> significação 52 . Pois, a significação não é dada,<br />
algo pronto e acabado que circula por meio <strong>de</strong> signos, mas um processo constante<br />
<strong>de</strong> (re)elaboração mediante as condições histórico-culturais <strong>de</strong> cada sujeito.<br />
Ao discutir natureza cultural do psiquismo h<strong>uma</strong>no, a partir das contribuições<br />
<strong>de</strong> Vigotski, Pino (2002) nos aponta a insuficiência do nascer h<strong>uma</strong>no, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />
um “duplo nascimento da criança”, que se <strong>de</strong>senvolve e se constitui como ser<br />
h<strong>uma</strong>no mediante <strong>uma</strong> complexa relação entre o biológico e o cultural, em que se<br />
faz necessária <strong>uma</strong> mediação social e semiótica. Assinala que essa tese – da<br />
constituição cultural do homem – supera o antigo dualismo presente na oposição<br />
entre natureza e cultura.<br />
Se a teoria <strong>de</strong> Darwin assume gran<strong>de</strong> relevância para Vigotski, assim como<br />
para Damásio e Maturana, coloca-se <strong>uma</strong> importante diferença, na medida em o<br />
primeiro trabalha com o materialismo histórico e dialético. Vigotski – tendo como<br />
objetivo criar <strong>uma</strong> metodologia capaz <strong>de</strong> construir <strong>uma</strong> ciência geral voltada não só<br />
para a explicação dos fatos psicológicos, mas às “leis históricas” que os<br />
<strong>de</strong>terminam – propõe-se a articular “história natural” com a história h<strong>uma</strong>na, n<strong>uma</strong><br />
psicologia que revelasse as leis dos processos psicológicos.<br />
Desta forma, ainda ressalta Pino (2002), apontando-nos alg<strong>uma</strong>s questões<br />
fundamentais para concepção <strong>de</strong> homem e da própria visão <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> Vigotski:<br />
“a espécie homo é vista como <strong>uma</strong> espécie que, à semelhança do que ocorre<br />
com outras espécies biológicas, emerge como <strong>uma</strong> especialização que tem<br />
lugar na corrente evolutiva. Todavia, à diferença das outras espécies, o<br />
percurso evolutivo que ela segue é diferente, pois não é ditado por leis da<br />
52 Os conceitos <strong>de</strong> mediação e significação têm sido objeto <strong>de</strong> <strong>discussão</strong> e investigação n<strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong><br />
aprofundar a interpretação que se faz <strong>de</strong>ste processo, nas discussões realizadas por inúmeros autores. Para<br />
Smolka e Nogueira (2002) a mediação, na perspectiva histórico-cultural <strong>de</strong>ve ser concebida como um princípio<br />
teórico que permite <strong>uma</strong> interpretação das ações h<strong>uma</strong>nas como sendo social e semioticamente mediadas. De<br />
modo que: “um aspecto da mediação é a incorporação <strong>de</strong>stes instrumentos técnicos e simbólicos na estrutura<br />
da ativida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na, e que a ativida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na individual só se constitui na dinâmica das relações sociais” (p.<br />
4).<br />
Pino (2002) elabora tal questão afirmando a significação como um processo <strong>de</strong> semiose, aliado à mediação.<br />
Para o autor, “A mediação semiótica resulta <strong>de</strong>ssa característica da significação, a qual permite que ela possa<br />
estar, ao mesmo tempo, em diferentes “lugares” (virtuais?) porque ela não está em lugar nenhum (espacial).<br />
Ela está além do tempo e do espaço, apesar <strong>de</strong> concretizar-se no espaço e no tempo. Se a significação é o<br />
valor agregado às coisas – incluída nessas coisas a natureza do homem (dimensão biológica) – ela constitui o<br />
componente essencial da cultura (conjunto <strong>de</strong> produções h<strong>uma</strong>nas), aquilo que permite que esta possa ser<br />
produzida e interiorizada pelos indivíduos constituindo-se seres culturais” (p. 14).