Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
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E aqui finalmente <strong>de</strong>lineia-se o conceito <strong>de</strong> emoção para o autor:<br />
29<br />
“a emoção é a combinação <strong>de</strong> um processo avaliatório mental, simples ou<br />
complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria<br />
dirigidas ao corpo propriamente dito, resultando num estado emocional do<br />
corpo, mas também dirigidas ao próprio cérebro 31 (núcleos<br />
neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em alterações mentais<br />
adicionais” (id., ibid.,p.169) 32 .<br />
Defen<strong>de</strong>ndo que nos seres h<strong>uma</strong>nos, enquanto seres sociais, há emoções<br />
que vão se tornando mais complexas 33 , sendo por isso <strong>de</strong>finidas como sociais,<br />
Damásio distancia-se do argumento <strong>de</strong> Maturana e, aproxima-se à primeira vista<br />
<strong>de</strong> autores como Wallon e Vigotski – que também elaboram acerca da<br />
complexida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na em relação à consciência.<br />
Damásio reconhece a importância do mecanismo modular das emoções<br />
h<strong>uma</strong>nas, ressaltando as emoções secundárias em seu substrato neural e sua<br />
função biológica (reguladora da <strong>sobre</strong>vivência e orientadora dos processos<br />
cognitivos à medida que estes estão relacionados com tal regulação biológica,<br />
como vimos), <strong>de</strong>screvendo-as em seu funcionamento neural, cerebral, cognitivo.<br />
Em relação ao mistério em que constitui a consciência, assinala ainda <strong>uma</strong><br />
distinção entre as emoções primárias, as emoções secundárias ou sociais e o que<br />
<strong>de</strong>nomina emoções <strong>de</strong> fundo (relacionados aos estados corporais mais imediatos).<br />
E, além disso, ao contrário <strong>de</strong> muitos autores que se <strong>de</strong>dicam ao tema, Damásio<br />
concebe emoção e sentimento como categorias distintas, pois consi<strong>de</strong>ra que<br />
apesar <strong>de</strong> alguns sentimentos estarem relacionados às emoções, sendo<br />
provenientes <strong>de</strong>stas, muitos não estão. Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, o autor<br />
classifica as varieda<strong>de</strong>s dos sentimentos: sentimentos <strong>de</strong> emoções universais<br />
básicas 34 ; sentimentos <strong>de</strong> emoções universais sutis 35 ; e sentimentos <strong>de</strong> fundo 36 .<br />
31<br />
Grifos do autor.<br />
32<br />
Tal consi<strong>de</strong>ração nos remete <strong>de</strong> fato, a problemática levantada por Vigotski (2003), especialmente quando<br />
esse autor afirma que a teoria <strong>de</strong>fendida por Cannon nos mostra que “o substrato material das emoções não é<br />
um mecanismo extracerebral, um mecanismo que se acha fora do cérebro h<strong>uma</strong>no” (p. 95).<br />
33<br />
É interessante notar que os exemplos apresentados pelo autor são quase sempre relacionados às tragédias<br />
<strong>de</strong> Shakespeare, como também o faz Vigotski.<br />
34<br />
A primeira varieda<strong>de</strong> dos sentimentos é baseada nas emoções (as mais universais: felicida<strong>de</strong>, tristeza,<br />
cólera, medo e nojo) e correspon<strong>de</strong> a certos perfis ou padrões <strong>de</strong> resposta do estado do corpo (em gran<strong>de</strong><br />
medida, pré-organizados na acepção <strong>de</strong> James: quando o corpo se conforma aos perfis <strong>de</strong> <strong>uma</strong> daquelas<br />
emoções, sentimo-nos felizes, tristes, irados, receosos ou repugnados. Mas, quando os sentimentos estão