Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Emoções: uma discussão sobre modos de conceber e teorizar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
44<br />
natureza mas, cada vez mais pelas leis da história h<strong>uma</strong>na; história<br />
constituída das transformações que o homem opera na natureza visando a<br />
fazer <strong>de</strong>la seu novo meio “natural”. O homem é a única espécie <strong>de</strong> que se<br />
tem notícia que consegue transformar a natureza para criar seu próprio meio<br />
em função dos objetivos previamente <strong>de</strong>finidos por ele e que ao fazê-lo,<br />
transforma-se ele mesmo, assumindo assim o controle <strong>de</strong> sua própria<br />
evolução. É essa dupla transformação, da natureza e <strong>de</strong>le mesmo, que<br />
chamamos história propriamente dita, da qual passa a fazer parte a história<br />
da natureza” (p. 9).<br />
Tal concepção <strong>de</strong> homem, profundamente inspirada pelas idéias marxistas,<br />
permite a Vigotski <strong>de</strong>senvolver sua teoria a partir <strong>de</strong> duas coor<strong>de</strong>nadas<br />
fundamentais num eixo <strong>de</strong>finidor do fundamento da história: a natureza e a cultura.<br />
E, por ouro lado, ainda segundo Pino, explica a diferenciação que faz entre as<br />
funções psicológicas, apesar <strong>de</strong> serem inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: elementares (<strong>de</strong><br />
natureza biológica) e superiores (<strong>de</strong> natureza cultural). Assim, o ser h<strong>uma</strong>no é<br />
constituído por essa dupla série <strong>de</strong> funções, num processo complexo em que tais<br />
funções se fun<strong>de</strong>m entre si, interpenetrando-se no <strong>de</strong>senvolvimento da criança:<br />
“De um lado as funções biológicas transformam-se ao sob a ação das culturais e,<br />
<strong>de</strong> outro, estas têm naquelas, o suporte que precisam para constituir-se, o que as<br />
torna em parte, condicionadas pelo amadurecimento daquelas”(id, ibid., p.10).<br />
É, <strong>sobre</strong>tudo, um processo que se dá em dois planos o social e o pessoal,<br />
<strong>de</strong> maneira que as funções culturais que caracterizam a espécie h<strong>uma</strong>na não<br />
emergem pura e simplesmente das leis da natureza, como fruto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />
maturação biológica.<br />
À medida que a criança ao nascer, faz parte <strong>de</strong> um meio cultural, vai<br />
progressivamente constituindo-se como ser h<strong>uma</strong>no, frente à mediação do outro,<br />
as funções biológicas vão se convertendo em funções culturais, inscrevendo-se na<br />
história social dos homens:<br />
“Sua constituição em cada indivíduo resulta <strong>de</strong> um espécie <strong>de</strong> “transposição<br />
<strong>de</strong> planos (autor fala em internalização ou conversão): do plano social, on<strong>de</strong><br />
constituem o suporte das relações h<strong>uma</strong>nas, para o plano pessoal. Em<br />
outros termos, elas são o resultado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> conversão das funções das<br />
relações sociais que operam na esfera pública em funções <strong>de</strong>ssas mesmas<br />
relações operando agora na esfera privada, razão pela qual Vigotski as<br />
chama <strong>de</strong> “quase sociais” “(Pino, 2002:11).