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José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

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Totóca tinha se chegado e sentado perto <strong>de</strong> mim. Examinou com um sorriso<br />

amigo, o meu pezinho <strong>de</strong> Laranja Lima, cheio <strong>de</strong> laço e <strong>de</strong> tampinhas <strong>de</strong> cerveja.<br />

Ele estava querendo coisa.<br />

— Zezé, você quer me emprestar quatrocentos réis?<br />

— Não.<br />

— Mas você tem, não tem?<br />

— Tenho.<br />

— E diz que não empresta sem saber para quê?<br />

— Vou ficar riquíssimo para po<strong>de</strong>r viajar para Trasos-Montes.<br />

— Que maluquice é essa agora?<br />

— Não conto.<br />

— Pois engula.<br />

— Engulo e não empresto os quatrocentos réis.<br />

— Você é rato, tem pontaria. Amanhã você joga e ganha mais bolas para<br />

ven<strong>de</strong>r. Num instante recupera os quatrocentos réis.<br />

— Mesmo assim não empresto e não venha brigar que eu estou bonzinho,<br />

sem mexer com ninguém.<br />

— Não quero brigar. Mas é que você é o irmão que eu mais gosto. E <strong>de</strong><br />

repente <strong>de</strong>u para ficar um monstro sem coração....<br />

— Não estou virando monstro. Eu agora sou um troglodita sem coração.<br />

— É o quê?<br />

— Troglodita. Titio Edinundo me mostrou um retrato da <strong>rev</strong>ista. Tinha um<br />

macacão cabeludo com porrete na mão. Pois bem, Troglodita era gente do começo<br />

do mundo que vivia nas cavernas <strong>de</strong> Nem... Nem... Nem sei o que. Não consegui<br />

<strong>de</strong>corar o nome por que era estrangeiro e difícil <strong>de</strong>mais...<br />

— Tio Edmundo não <strong>de</strong>via meter tanta minhoca na sua cabeça. Mas você<br />

empresta?<br />

— Eu nem sei se tenho...<br />

— Puxa, Zezé, quantas vezes que a gente sai engraxando e você não faz<br />

nada, eu divido. Quantas vezes que você está cansado e eu trago a sua caixa <strong>de</strong><br />

engraxate...<br />

Era verda<strong>de</strong>. Totóca poucas vezes era ruim comigo. Eu sabia que ia acabar<br />

emprestando.<br />

— Se você me emprestar eu conto duas coisas maravilhosas.<br />

Fiquei em silêncio.<br />

— Eu digo que o seu <strong>pé</strong> <strong>de</strong> Laranja Lima é muito mais bonito do que o meu<br />

<strong>pé</strong> <strong>de</strong> tamarindo.<br />

— Você diz mesmo?<br />

— Já disse.<br />

Meti a mão no bolso e sacudi as moedas.<br />

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