José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
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E a frase veio aos borbotões sem que eu pu<strong>de</strong>sse me controlar:<br />
“Prometo que fico bonzinho, que não brigo mais, que não falo mais<br />
palavrão, nem bunda mais eu digo... Mas eu quero ficar sempre junto <strong>de</strong> você”...<br />
Olharam-me penalizados porque julgavam que eu estava falando <strong>de</strong> novo<br />
com Minguinho...<br />
No começo era apenas um roçar suave na janela, mas <strong>de</strong>pois aquilo se<br />
transformou em batidas. Uma voz vinha do lado <strong>de</strong> fora bem mansinha.<br />
— Zezé!...<br />
Levantei-me e encostei a cabeça na ma<strong>de</strong>ira da janela.<br />
— Quem é?<br />
— Eu. Abre.<br />
Puxei o trinco sem fazer ruído para não acordar Glória. No escuro, parecia<br />
um milagre, brilhava todo “ajaezado” o Minguinho.<br />
— Posso entrar?<br />
— Po<strong>de</strong>r, po<strong>de</strong>. Mas não faça barulho que ela po<strong>de</strong> acordar.<br />
— Garanto que não acorda.<br />
Pulou para <strong>de</strong>ntro do quarto e eu voltei para a cama.<br />
— Olhe o que eu trouxe para você. Ele fez questão <strong>de</strong> vir visitar também.<br />
Trouxe o braço para a frente e eu vi uma es<strong>pé</strong>cie <strong>de</strong> pássaro prateado.<br />
— Não dá pra ver direito, Minguinho.<br />
— Repare bem que você vai ter uma surpresa. Eu ajaezei ele todo com penas<br />
<strong>de</strong> prata. Não está lindo?<br />
— Luciano! Que bonito você ficou. Você <strong>de</strong>via ser sempre assim. Pensei que<br />
você era um falcão daquela história do Califa Stork.<br />
Alisei sua cabeça emocionado e senti pela primeira vez que ela era<br />
maciazinha e que até morcego gostava <strong>de</strong> ternura.<br />
— Você não reparou uma coisa. Espie bem.<br />
Deu uma volta para mostrar-se.<br />
— Estou com as esporas <strong>de</strong> Tom Mix. O cha<strong>pé</strong>u <strong>de</strong> Ken Maynard. As duas<br />
pistolas <strong>de</strong> Fred Thompson. O cinturão e as botas <strong>de</strong> Richard Talmadge. Ainda por<br />
cima, seu Ariovaldo me emprestou a camisa <strong>de</strong> xadrezinho que você tanto gosta.<br />
— Nunca vi coisa mais linda, Minguinho. Como você conseguiu juntar tudo?<br />
— Bastou eles saberem que você estava doente e me emprestaram.<br />
— Que pena que você não possa ficar sempre vestido assim.<br />
Fiquei olhando Minguinho e preocupado se ele sabia do <strong>de</strong>stino que o<br />
esperava. Mas não disse nada.<br />
Aí, ele se sentou na beira da cama e seus olhos só expandiam doçura e<br />
preocupação. Aproximou seu rosto dos meus olhos.<br />
— Que é que há, Xururuca?<br />
— Mas Xururuca é você, Minguinho.<br />
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