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José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

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— Gostas assim <strong>de</strong> passear em “nosso” carro?<br />

— Ele também é meu?<br />

— Tudo que é meu é teu. Como dois gran<strong>de</strong>s amigos.<br />

Fiquei <strong>de</strong>lirante. Ah se eu pu<strong>de</strong>sse contar a todo mundo que era meio dono<br />

do carro mais bonito do mundo.<br />

— Quer dizer então que agora somos completamente amigos?<br />

— Somos.<br />

— Então posso te perguntar uma coisa?<br />

— Po<strong>de</strong>, sim senhor.<br />

— Agora não vais querer, penso cá comigo, cresceres logo para me matares?<br />

— Não. Nunca faria isso.<br />

— Mas disseste, não?<br />

— Disse quando estava com raiva. Eu nunca vou matar ninguém porque<br />

quando matam galinha lá em casa, eu nem gosto <strong>de</strong> ver. Depois, eu <strong>de</strong>scobri que o<br />

senhor não era nada do que se dizia. Não era antropófago nem nada.<br />

Ele quase <strong>de</strong>u um pulo.<br />

— O que disseste?<br />

— Antropófago mesmo.<br />

— E sabes lá o que é isso?<br />

— Sei, sim. Tio Edmundo me ensinou. Ele é um sábio. Tem um homem na<br />

cida<strong>de</strong> que convidou ele para fazer um dicionário.<br />

Até hoje ele só não soube me contar o que é carborundum.<br />

— Estás fugindo do assunto. Quero que me expliques exatamente o que é<br />

antropófago.<br />

— Antropófagos eram índios que comiam carne humana. Na história do<br />

Brasil tem uma figurinha <strong>de</strong>les <strong>de</strong>scascando os portugueses para comer. Eles<br />

também comiam os outros guerreiros das tribos inimigas. É o mesmo que canibal.<br />

Só que canibal é na África e gosta muito <strong>de</strong> comer missionário barbado.<br />

Ele soltou uma gargalhada gostosa que nenhum brasileiro sabia soltar.<br />

— Tens uma cabecinha doiro, Pirralho. Às vezes eu até me assusto.<br />

Depois me fitou com serieda<strong>de</strong>.<br />

— Diga lá, Pirralho, que ida<strong>de</strong> tu tens?<br />

— De mentira ou <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>?<br />

— De verda<strong>de</strong>, é claro. Não quero ter um amigo mentiroso.<br />

— É assim: <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> tenho ainda cinco anos. De mentira, seis. Porque<br />

senão não podia entrar na Escola.<br />

— E por que te puseram tão cedo na Escola?<br />

— Imagine! Todo mundo queria se ver livre <strong>de</strong> mim durante umas horas. O<br />

senhor sabe o que é carborundum?<br />

— Don<strong>de</strong> foste tirar isso?<br />

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