José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Aí as lágrimas me <strong>de</strong>sceram covar<strong>de</strong>mente.<br />
— Zezé, você está chorando...<br />
— Passa logo. Mesmo eu não sou um rei, como você. Só sou uma coisa que<br />
não presta pra nada. Um menino muito malvado, bem malvado mesmo... Só isso.<br />
* * *<br />
— Totóca, você tem ido na casa nova?<br />
— Não. Você tem ido?<br />
— Sempre que posso dou um pulo lá.<br />
— Mas por que tudo isso?<br />
— Quero saber se Minguinho está bem.<br />
— Que diabo é Minguinho?<br />
— É o meu <strong>pé</strong> <strong>de</strong> Laranja Lima.<br />
— Você arranjou um nome que se parece muito com ele. Você é danado para<br />
achar as coisas.<br />
Riu e continuou a afinar o que seria o novo corpo do Raio <strong>de</strong> Luar.<br />
— A ele está?<br />
— Não cresceu nada.<br />
— E nem cresce se você fica espiando o tempo todo. Está ficando bonito? É<br />
assim que você queria o cabo?<br />
— Era. Totóca por que você sabe fazer tudo, hem? Você faz gaiola,<br />
galinheiro, viveiro, cerca, cancela...<br />
— Isso é porque nem todo mundo nasceu para ser poeta <strong>de</strong> gravata <strong>de</strong> laço.<br />
Mas se você quisesse mesmo aprendia.<br />
— Acho que não. Para isso é preciso a pessoa ter “inclinação”.<br />
Ele parou um instante e me olhou entre rindo e reprovando aquela possível<br />
novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tio Edmundo.<br />
Na cozinha, Dindinha tinha vindo para fazer rabanada molhada no vinho. Era<br />
a ceia <strong>de</strong> Natal. Era tudo.<br />
Eu comentei para Totóca:<br />
— E olhe lá. Tem gente que nem tem isso. Tio Edmundo foi quem <strong>de</strong>u o<br />
dinheiro para o vinho e para comprar as frutas da salada do almoço <strong>de</strong> amanhã.<br />
Totóca estava fazendo o trabalho <strong>de</strong> graça porque soube a história do Cassino<br />
Bangu. Pelo menos Luís ia ganhar uma coisa. Uma coisa velha, usada, mas muito<br />
linda e que eu gostava muito.<br />
— Totóca.<br />
— Fale.<br />
— Será que a gente não vai ganhar nada, nada, <strong>de</strong> Papai Noel?<br />
— Acho que não.<br />
27