21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Aquele mesmo. Ele vai me pegar na saída. Você não quer brigar com ele<br />

por mim?<br />

— Mas ele vai me matar.<br />

—Vai nada e mesmo você é brigador e corajoso.<br />

— Tá bem. Na saída?<br />

— Na saída.<br />

Totóca era assim, sempre arranjava brigas e era eu quem ele empurrava no<br />

embrulho. Mas até que era bom. Eu ia botar toda a raiva do Português contra Mé.<br />

Verda<strong>de</strong> que nesse dia eu apanhei tanto, saí <strong>de</strong> olho roxo e com os braços<br />

ralados. Totóca ficava com os outros sentados no chão torcendo com os livros<br />

sobre os joelhos: os meus e os <strong>de</strong>le. Ficavam também orientando.<br />

— Dê uma cabeçada na barriga <strong>de</strong>le, Zezé. Mor<strong>de</strong>, mete as unhas que ele só<br />

tem gordura. Chuta os ovos <strong>de</strong>le.<br />

Mas mesmo com toda a torcida e orientação se não fosse seu Rozemberg da<br />

Confeitaria eu teria virado picadinho. Ele saiu lá <strong>de</strong>trás do balcão e puxou Bié pela<br />

gola da camisa e <strong>de</strong>u-lhe uns safanões.<br />

— Não tem vergonha? Tamanho marmanjo bater num menininho <strong>de</strong>sses.<br />

Seu Rozemberg tinha uma paixão oculta, como diziam lá em casa por minha<br />

irmã Lalá. Ele conhecia a gente e todas às vezes que ela estava com algum <strong>de</strong> nós,<br />

dava docinhos e balas com o maior <strong>de</strong> todos os sorrisos on<strong>de</strong> brilhavam vários<br />

<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ouro.<br />

* * *<br />

Não resisti e acabei contando o meu fiasco para Minguinho. Nem podia<br />

mesmo escon<strong>de</strong>r com aquele olho roxo e empapuçado. Mesmo porque Papai<br />

quando me viu assim, ainda me <strong>de</strong>u uns cascudos e passou um sermão em Totóca.<br />

Papai nunca batia em Totóca. Eu, sim, porque era tudo que existia <strong>de</strong> ruim.<br />

Minguinho ouvira tudo, na certa. Como po<strong>de</strong>ria então <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> contar? Ele<br />

escutou, <strong>rev</strong>oltado, e só comentou quando eu acabei numa voz zangada.<br />

— Que covar<strong>de</strong>!<br />

— A briga até que não foi nada, se você visse...<br />

Troque-que-troque relatei tudo que se passara com o morcego. Minguinho<br />

estava espantado com a minha coragem e até me aconselhou:<br />

— Um dia você se vinga.<br />

— Vou me vingar, sim. Vou pedir o <strong>rev</strong>ólver <strong>de</strong> Tom Mix e o Raio <strong>de</strong> Luar<br />

<strong>de</strong> Fred Thompson e vou armar uma armadilha com os índios Comanches; um dia<br />

trago a cabeleira <strong>de</strong>le esvoaçando na ponta <strong>de</strong> um bambu.<br />

Mas logo, logo a raiva passou e a gente estava conversando <strong>de</strong> outras coisas.<br />

63

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!