21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— A gente <strong>de</strong>via apren<strong>de</strong>r com ele, Lalá. Veja só a paciência que ele tem<br />

com o irmãozinho.<br />

— É, mas o outro não faz o que ele faz. Isso já é malda<strong>de</strong>. Não é arte.<br />

— Tá certo que ele tem o diabo no sangue, mas mesmo assim é engraçado.<br />

Ninguém fica com raiva <strong>de</strong>le na rua, por mais que pinte...<br />

— Aqui ele não passa sem tomar umas chineladas. Um dia ele apren<strong>de</strong>.<br />

Joguei uma flecha <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> nos olhos <strong>de</strong> Glória. Ela sempre me salvara e<br />

eu sempre prometia a ela que não ia fazer nunca mais...<br />

— Mais tar<strong>de</strong>. Agora não. Eles estão brincando tão quietinhos...<br />

Ela já sabia <strong>de</strong> tudo. Sabia que eu tinha ido pelo valão e entrado nos fundos<br />

do quintal <strong>de</strong> Dona Celina. Fiquei fascinado com a corda <strong>de</strong> roupa balançando ao<br />

vento uma porção <strong>de</strong> pernas e braços. Aí o diabo me disse que eu podia dar uma<br />

queda ao mesmo tempo em todos os braços e pernas. Eu concor<strong>de</strong>i com ele que ia<br />

ser muito engraçado. Procurei no valão um caco <strong>de</strong> vidro bem afiado e subi na<br />

laranjeira e cortei a corda com paciência.<br />

Eu quase que caí ao mesmo tempo que aquilo tudo veio abaixo. Um grito e<br />

todo mundo correu.<br />

— Aco<strong>de</strong> minha gente, que a corda rebentou.<br />

Mas uma voz, não sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, gritou mais alto.<br />

— Foi aquela peste do menino <strong>de</strong> seu Paulo. Eu vi ele trepando na laranjeira<br />

com um caco <strong>de</strong> vidro...<br />

— Zezé?<br />

— Que é, Luís?<br />

— Conte pra mim como é que você sabe tanta coisa do Jardim Zoológico?<br />

— Já visitei muitos na vida.<br />

Mentia, tudo o que eu sabia era Tio Edmundo quem me contara e até me<br />

prometera me levar lá um dia.<br />

Mas ele andava tão <strong>de</strong>vagarzinho que quando a gente chegasse lá, já não<br />

existia mais nada. Totóca fora uma vez com Papai.<br />

— O que eu gosto mais é o da Rua Barão <strong>de</strong> Drummond, na Vila Isabel.<br />

Você sabe quem foi o Barão <strong>de</strong> Drummond? Claro que você não sabe. É muito<br />

criança para saber <strong>de</strong>ssas coisas. O tal Barão <strong>de</strong>via ser muito amigo <strong>de</strong> Deus.<br />

Porque foi ele que ajudou Deus a criar o jogo <strong>de</strong> bicho e o Jardim Zoológico.<br />

Quando você ficar maiorzinho...<br />

As duas continuavam lá.<br />

— Quando eu ficar maiorzinho o quê?<br />

— Ai que criança pergunta<strong>de</strong>ira. Quando você chegar lá eu ensino os bichos<br />

e o número dos bichos. Até número vinte. Do número vinte até o número vinte e<br />

cinco, eu sei que tem vaca, touro, urso, veado e tigre. Não sei direito o lugar <strong>de</strong>les,<br />

mas vou apren<strong>de</strong>r para não ensinar errado.<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!