José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
o corpo da mulher...”<br />
— Zezé!<br />
— Pronto, Papai.<br />
Levantei-me prestamente. Papai <strong>de</strong>via estar gostando muito e queria que eu<br />
viesse cantar perto.<br />
— Que é que você está cantando? Repeti.<br />
— “Eu quero uma mulher bem nua...”<br />
— Quem ensinou essa música a você?<br />
Seus olhos tinham adquirido um brilho fosco como se fosse ficar louco.<br />
— Foi seu Ariovaldo.<br />
— Eu já disse que não queria que andasse na sua companhia.<br />
Ele não dissera nada. Acho que nem sabia que eu trabalhava <strong>de</strong> ajudante <strong>de</strong><br />
cantor.<br />
— Repita <strong>de</strong> novo a canção.<br />
— É um tango da moda.<br />
— “Eu quero uma mulher bem nua...”<br />
Uma bofetada estalou no meu rosto.<br />
— Canta <strong>de</strong> novo:<br />
— “Eu quero uma mulher bem nua...”<br />
Outra bofetada, outra, mais outra. As lágrimas pulavam dos meus olhos sem<br />
querer.<br />
— Vamos, continua a cantar:<br />
— “Eu quero uma mulher bem nua...”<br />
<strong>Meu</strong> rosto quase não se podia mexer, era arremessado. <strong>Meu</strong>s olhos abriam-se<br />
para se tornar a fechar com o impacto das bofetadas. Eu não sabia se <strong>de</strong>via parar ou<br />
se tinha <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer... Mas na minha dor tinha resolvido uma coisa. Seria a última<br />
surra que eu levaria, seria a última mesmo que morresse para isso.<br />
Quando ele parou um pouco e mandou cantar, eu não cantei. Olhei Papai<br />
com um <strong>de</strong>sprezo enorme e falei:<br />
— Assassino!... Mate <strong>de</strong> uma vez. A ca<strong>de</strong>ia está aí para me vingar.<br />
89