José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
galinheiro, virei-me e <strong>de</strong>i a<strong>de</strong>us para ela. Nos seus olhos brilhava a felicida<strong>de</strong>. Eu<br />
na minha estranha precocida<strong>de</strong> adivinhava o que se passava em seu coração: “Ele<br />
voltou para os seus sonhos, graças a Deus!”<br />
— Zezé...<br />
— Hum.<br />
— Cadê a pantera negra?<br />
Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. A vonta<strong>de</strong> era contar o<br />
que <strong>de</strong> fato existia. “Bobinho, nunca existiu pantera negra. Era apenas uma galinha<br />
preta e velha, que eu comi numa canja”.<br />
— Só ficaram as duas leoas, Luís. A pantera negra foi passar as férias na<br />
selva do Amazonas.<br />
Era melhor conservar a sua ilusão o mais possível. Quando eu era criancinha<br />
também acreditava naquelas coisas.<br />
O Reizinho arregalou os olhos.<br />
— Ali naquela selva?<br />
— Não tenha medo. Ela foi tão longe que nunca mais vai acertar o caminho<br />
da volta.<br />
Sorri com amargura. A selva do Amazonas era apenas meia dúzia <strong>de</strong><br />
laranjeiras espinhudas e hostis.<br />
— Sabe, Luís, Zezé está muito fraco, precisa voltar. Amanhã a gente brinca<br />
mais. De bondinho <strong>de</strong> Pão <strong>de</strong> Açúcar e do que você quiser.<br />
Ace<strong>de</strong>u e começou a voltar <strong>de</strong>vagarzinho comigo. Ele ainda era muito<br />
pequeno para adivinhar a verda<strong>de</strong>. Eu não queria chegar perto do valão ou do Rio<br />
Amazonas. Eu não queria <strong>de</strong>parar com o <strong>de</strong>sencanto <strong>de</strong> Minguinho. Luís não sabia<br />
que aquela flor branquinha tinha sido o nosso a<strong>de</strong>us.<br />
118