21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>itar na re<strong>de</strong> fumando” e vendo o jornal queimado ainda reclamou que não<br />

tinha lido aquele.<br />

O Português ria gostosamente e eu estava contente <strong>de</strong> vê-lo alegre.<br />

— Não te pegaram?<br />

— Nem <strong>de</strong>scobriram. Só contei isso pra Xururuca. Se me pegassem me<br />

cortavam o saco.<br />

— Cortavam o quê?<br />

— Bem, me capavam.<br />

Ele voltou a rir e ficamos olhando a estrada. Soprava uma poeira amarela por<br />

todo canto on<strong>de</strong> o carrão passava. Mas eu estava matutando uma coisa.<br />

— Portuga, você não me mentiu, não?<br />

— Sobre o que, Pirralho?<br />

— Olhe que eu nunca escutei ninguém falar: Levou um ponta<strong>pé</strong> nas ná<strong>de</strong>gas.<br />

Você já ouviu?<br />

Ele tornou a rir.<br />

— És um danadinho. Eu também nunca ouvi. Mas vá lá. Esquece as ná<strong>de</strong>gas<br />

e usa em vez, traseiros. Mas vamos mudar <strong>de</strong> conversa senão acabarei sem saber o<br />

que respon<strong>de</strong>r-te. Espia a paisagem que vai ficar mais cheia <strong>de</strong> árvores gran<strong>de</strong>s. O<br />

rio está ficando cada vez mais perto.<br />

Ele virou para a direita e tomou um atalho. O carro foi indo, foi indo e parou<br />

bem num <strong>de</strong>scampado, Só havia uma árvore gran<strong>de</strong> cheia <strong>de</strong> raízes enormes.<br />

Bati palmas <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>.<br />

— Que lindo! Que lugar mais lindo! Quando me encontrar com Buck Jones<br />

vou dizer que as campinas e planícies <strong>de</strong>le, nem chegam aos <strong>pé</strong>s do nosso lugar.<br />

Ele passou a mão na minha cabeça.<br />

— Assim é que eu quero te ver sempre. Vivendo os bons sonhos e não com<br />

caraminholas na cabeça.<br />

Descemos do carro e aju<strong>de</strong>i a carregar as coisas para a sombra da árvore.<br />

— Você vem sempre aqui sozinho, Portuga?<br />

— Quase sempre. Vês? Também tenho uma árvore.<br />

— Como é que ela se chama, Portuga? Quem tem uma árvore tão gran<strong>de</strong><br />

assim tem que batizar ela.<br />

Ele pensou, sorriu e pensou.<br />

— É um segredo meu, mas vou te contar. Chama-se Rainha Carlota.<br />

— E ela fala com você?<br />

— Falar não fala. Porque uma rainha nunca fala diretamente com os seus<br />

súditos. Mas eu sempre a trato <strong>de</strong> Majesta<strong>de</strong>.<br />

— Que é súditos?<br />

— É o povo que obe<strong>de</strong>ce ao que a rainha manda.<br />

— E eu vou ser súdito seu?<br />

98

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!