José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
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— Xururuca, você nem sabe. Você se lembra que na semana passada eu<br />
ganhei <strong>de</strong> prêmio por ser bom aluno aquele livro <strong>de</strong> histórias “A rosa mágica”?<br />
Minguinho ficava muito feliz quando eu o tratava <strong>de</strong> Xururuca; nesse<br />
momento ele sabia que eu ainda lhe queria mais bem ainda.<br />
— Lembro, sim.<br />
— Pois eu nem contei que já li o livro. É a história <strong>de</strong> um príncipe que<br />
ganhou <strong>de</strong> uma fada uma rosa vermelha e branca. Pois o danado viajava num<br />
cavalo lindo todo ajaezado <strong>de</strong> ouro; é assim que diz no livro. Pois no cavalo<br />
ajaezado <strong>de</strong> ouro ele saía viajando em busca <strong>de</strong> aventura. Qualquer perigo ele<br />
sacudia a rosa mágica e aparecia uma fumaceira danada para que o Príncipe<br />
escapasse. Na verda<strong>de</strong>, Minguinho, eu achei a história meio boba, sabe? Não é<br />
como as aventuras que eu quero ter na minha vida. Aventura mesmo tem Tom Mix<br />
e Buck Jones. E Fred Thompson e Richard Talmadge. Porque eles lutam como<br />
danados, dão tiros, socos... Agora se qualquer um <strong>de</strong>les fosse puxando uma rosa<br />
mágica em cada perigo que viesse, não tinha graça nenhuma. Que é que você acha?<br />
— Acho meio sem graça também.<br />
— Mas não é isso que eu quero saber. Eu quero saber se você acredita<br />
mesmo que uma rosa possa fazer mágica assim?<br />
— De fato é mesmo esquisito.<br />
— Esse pessoal vai contando as coisas e pensa que criança acredita em tudo.<br />
— Lá isso é.<br />
Ouvimos um barulho e Luís vinha se aproximando. Cada vez meu<br />
irmãozinho ficava mais lindo. Não era chorão, nem briguento. Mesmo quando eu<br />
era obrigado a tomar conta <strong>de</strong>le, quase sempre eu o fazia <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />
Comentei para Minguinho:<br />
— Vamos mudar <strong>de</strong> assunto porque vou contar essa história para ele e ele vai<br />
achar linda. A gente não <strong>de</strong>ve tirar as ilusões <strong>de</strong> uma criança.<br />
— Zezé, vamos brincar?<br />
— Mas eu estou brincando. De que é que você quer brincar?<br />
— Queria passear no Jardim Zoológico.<br />
Olhei <strong>de</strong>sanimado o galinheiro com a galinha preta e as duas frangas novas.<br />
— É muito tar<strong>de</strong>. Os leões já foram dormir e os tigres <strong>de</strong> Bengala também.<br />
Nessa hora já fecharam tudo. Não ven<strong>de</strong>m mais entrada.<br />
— Então vamos viajar na Europa.<br />
O danadinho aprendia tudo e falava certinho o que ouvia. Mas a verda<strong>de</strong> é<br />
que eu não estava disposto a viajar na Europa. Queria mesmo era permanecer perto<br />
<strong>de</strong> Minguinho. Minguinho não caçoava <strong>de</strong> mim nem fazia pouco do meu olho<br />
empapuçado.<br />
Sentei perto do meu irmãozinho e falei com calma.<br />
— Péra aí que eu vou pensar um brinquedo.<br />
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