21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Todas as luzes da casa se acen<strong>de</strong>ram e meu quarto foi invadido por rostos<br />

semi-adormecidos.<br />

— Foi um pesa<strong>de</strong>lo.<br />

Mamãe me tomara nos braços tentando contra o peito esmagar os meus<br />

soluços.<br />

— Foi só um sonho, meu filho... Um pesa<strong>de</strong>lo.<br />

Recomecei a vomitar enquanto Glória contava para Lalá.<br />

— Acor<strong>de</strong>i quando ele gritava assassino. Falava <strong>de</strong> matar, esmagar, cortar...<br />

<strong>Meu</strong> Deus, quando vai acabar tudo isso?<br />

* * *<br />

Mas poucos dias <strong>de</strong>pois acabou. Estava con<strong>de</strong>nado a viver, viver. Numa<br />

manhã, Glória entrou radiante. Eu estava sentado na cama e olhava a vida com uma<br />

tristeza <strong>de</strong> doer.<br />

— Olhe, Zezé. Em suas mãos existia uma florzinha branca.<br />

— A primeira flor <strong>de</strong> Minguinho. Logo ele vira uma laranjeira adulta e<br />

começa a dar <strong>laranja</strong>s.<br />

Fiquei alisando a flor branquinha entre os <strong>de</strong>dos. Não choraria mais por<br />

qualquer coisa. Muito embora Minguinho estivesse tentando me dizer a<strong>de</strong>us com<br />

aquela flor; ele partia do mundo dos meus sonhos para o mundo da minha realida<strong>de</strong><br />

e dor.<br />

— Agora vamos tomar um mingauzinho e dar umas voltas pela casa como<br />

você fez ontem. Já vem já.<br />

Foi quando o rei Luís subiu na minha cama. Agora <strong>de</strong>ixavam sempre que<br />

viesse perto <strong>de</strong> mim. No começo não queriam que se impressionasse.<br />

— Zezé!...<br />

— Que é, meu Reizinho?<br />

Na verda<strong>de</strong> ele era mesmo o único rei. Os outros, o <strong>de</strong> ouros, o <strong>de</strong> copas, o<br />

<strong>de</strong> paus e o <strong>de</strong> espadas eram apenas figuras sujas dos <strong>de</strong>dos que jogavam. E o<br />

outro, ele, nem chegara a ser um rei mesmo.<br />

— Zezé, eu gosto muito <strong>de</strong> você.<br />

— Eu também, <strong>de</strong> você meu irmãozinho.<br />

— Você hoje quer brincar comigo?<br />

— Hoje eu brinco com você. O que você quer fazer?<br />

— Eu quero ir no Jardim Zoológico, <strong>de</strong>pois quero ir na Europa. Depois eu<br />

quero ir nas selvas do Amazonas e brincar com Minguinho.<br />

— Se eu não ficar muito cansado, a gente vai fazer tudo isso.<br />

Depois do café, sob o olhar feliz <strong>de</strong> Glória, nós fomos saindo <strong>de</strong> mãos dadas<br />

para o fundo do quintal. Glória encostou-se na porta aliviada. Antes <strong>de</strong> chegar ao<br />

117

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!