José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
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CAPÍTULO SÉTIMO<br />
O Mangaratiba<br />
QUANDO DONA CECÍLIA PAIM perguntou se alguém queria ir ao<br />
quadro-negro esc<strong>rev</strong>er uma frase, mas uma frase que fosse invenção do aluno,<br />
ninguém se at<strong>rev</strong>eu. Mas eu pensei uma coisa e levantei o <strong>de</strong>do.<br />
— Quer vir, Zezé?<br />
Saí da carteira e me dirigi para o quadro-negro enquanto ouvia orgulhoso o<br />
seu comentário.<br />
— Vocês viram? Logo o menorzinho da turma.<br />
Eu não alcançava nem na meta<strong>de</strong> do quadro. Peguei o giz e caprichei na<br />
letra.<br />
“Faltam poucos dias para chegarem as férias”.<br />
Olhei para ela vendo se havia algum erro. Ela sorria contente e sobre a mesa<br />
existia o copo vazio. Vazio, mas com a rosa da imaginação como ela dissera.<br />
Talvez porque D. Cecília Paim não fosse bonita, era raro alguém levar uma flor<br />
para ela.<br />
Voltei para a minha carteira contente da minha frase.<br />
Contente porque quando as férias chegassem eu ia passear pra burro com o<br />
Portuga.<br />
Depois apareceram outros <strong>de</strong>cididos para esc<strong>rev</strong>er uma frase.<br />
Mas o herói tinha sido eu.<br />
Alguém pediu licença para entrar na aula. Um atrasado. Era o Jerônimo.<br />
Chegou estabanado e sentou-se bem por trás <strong>de</strong> mim.<br />
Colocou os livros com barulho e comentou para o vizinho. Não prestei bem<br />
atenção. Queria era estudar direitinho para ser sábio. Mas uma palavra da conversa<br />
sussurrada me chamou a atenção. Falaram em Mangaratiba.<br />
— Pegou o carro?<br />
— O carrão. Aquele bonito do seu Manuel Valadares...<br />
Virei-me atarantado.<br />
— Que foi que você disse?<br />
— Disse isso: que o Mangaratiba pegou o carro do Português na passagem<br />
da Rua da Chita. Foi por isso que eu cheguei tar<strong>de</strong>. O trem esmigalhou o carro.<br />
Tem gente à beça. Chamaram até o Corpo <strong>de</strong> Bombeiros <strong>de</strong> Realengo.<br />
Comecei a suar frio e meus olhos ameaçavam ficar escuros.<br />
Jerônimo continuava respon<strong>de</strong>ndo às perguntas do vizinho.<br />
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