21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Quando vi mesmo que estava per<strong>de</strong>ndo tempo, saí danado da vida e ganhei<br />

<strong>de</strong> novo o mundo da rua.<br />

Na rua <strong>de</strong>scobri Nardinho brincando com uma coisa. Estava <strong>de</strong> cócoras<br />

olhando, distraído da vida. Chequei perto. Ele tinha feito uma carrocinha <strong>de</strong> caixa<br />

<strong>de</strong> fósforos e amarrado um besourão que nunca vira tão gran<strong>de</strong>.<br />

— Puxa!<br />

— Gran<strong>de</strong>, não é?<br />

— Quer trocar?<br />

— Por quê?<br />

— Se você quiser figurinha...<br />

— Quantas?<br />

— Duas.<br />

— Tinha graça. Um besouro <strong>de</strong>sses e você só dá duas figurinhas.<br />

— Besouro assim tem <strong>de</strong> monte no valão da casa <strong>de</strong> Tio Edmundo.<br />

— Por três ainda troco.<br />

— Dou três, mas não po<strong>de</strong> escolher.<br />

— Assim, não. Pelo menos duas eu escolho.<br />

— Tá bem.<br />

Dei uma <strong>de</strong> Laura La Plante que eu tinha muitas repetidas. E ele escolheu<br />

uma <strong>de</strong> Hoot Gibson e outra <strong>de</strong> Patsy Ruth Miller. Peguei o besouro, enfiei no<br />

bolso e fui-me embora.<br />

* * *<br />

— Depressa, Luís. Glória foi comprar pão e Jandira está lendo na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

balanço.<br />

Saímos nos espremendo pelo corredor. Fui ajudar ele a <strong>de</strong>saguar.<br />

— Faz bastante que na rua ninguém po<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> dia.<br />

Depois, no tanque, lavei o rosto <strong>de</strong>le. Fiz o mesmo e voltamos para o quarto.<br />

Vesti ele sem fazer barulho. Calcei os seus sapatinhos. Porcaria esse negócio<br />

<strong>de</strong> meia, só serve para atrapalhar. Abotoei o seu terninho azul e procurei o pente.<br />

Mas o cabelo <strong>de</strong>le não sentava. Precisava fazer alguma coisa. Não tinha nada em<br />

canto algum. Nem brilhantina, nem óleo. Fui na cozinha e voltei com um pouco <strong>de</strong><br />

banha na ponta dos <strong>de</strong>dos. Esfreguei a banha na palma da mão e cheirei antes.<br />

— Num fe<strong>de</strong> nada.<br />

— Sapequei nos cabelos, <strong>de</strong> Luís e comecei a penteá-los. Aí a cabeça <strong>de</strong>le<br />

ficou linda. Cheia <strong>de</strong> cachinhos que parecia um São João <strong>de</strong> carneirinho nas costas.<br />

— Agora você fique em <strong>pé</strong>, aí, para não se amarrotar. Eu vou me vestir.<br />

Enquanto enfiava as calças e a camisinha branca, olhava meu irmão.<br />

— Como ele era lindo! Não havia ninguém mais bonito em Bangu.<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!