José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)
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— Sábado, não irei ver minha filha no Encantado. Ela foi passar uns dias em<br />
Paquetá com o marido. Eu tinha pensado, como o tempo está firme, em ir pescar lá<br />
no Guandu. Como estou sem um gran<strong>de</strong> amigo para me acompanhar, pensei em ti.<br />
<strong>Meu</strong>s olhos se iluminaram.<br />
— Você me levaria?<br />
— Bem, se queres. Não és obrigado a ir.<br />
A resposta foi que encostei meu rosto no seu rosto barbeado e o apertei nos<br />
meus braços, enrodilhando o seu pescoço.<br />
Estávamos rindo e a tragédia se afastara toda.<br />
— Tem um lugar lindo. Levaremos alguma coisa para comer. Do que mais<br />
gostas?<br />
— De você, Portuga.<br />
— Falo <strong>de</strong> salames, ovos, bananas...<br />
— Eu gosto <strong>de</strong> tudo. Lá em casa a gente apren<strong>de</strong> a gostar <strong>de</strong> tudo que tem e<br />
quando tem.<br />
— Vamos então?<br />
— Nem vou dormir pensando nisso.<br />
Mas havia um grave problema circundando a felicida<strong>de</strong>.<br />
— E o que vais dizer para te afastares <strong>de</strong> casa um dia todo?<br />
— Invento qualquer coisa.<br />
— E se te pegam <strong>de</strong>pois?<br />
— Até o fim do mês ninguém po<strong>de</strong> me bater. Prometeram à Glória, e Glória<br />
é uma fera. É a única ruça parecida comigo.<br />
— Verda<strong>de</strong>?<br />
— É, sim. Eu só posso apanhar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um mês quando me “recuperar”.<br />
Ligou o motor e recomeçou a marcha da volta,<br />
— Quer dizer que aquilo, não se fala mais?<br />
— Aquilo o quê?<br />
— Do Mangaratiba?<br />
— Vou <strong>de</strong>morar mais um tempo para fazer isso...<br />
— Ainda bem.<br />
Depois eu soube, por seu Ladislau, que apesar da minha promessa o Portuga<br />
só foi para casa <strong>de</strong>pois que o Mangaratiba passou <strong>de</strong> volta. Bem tar<strong>de</strong> da noite.<br />
* * *<br />
A gente tinha viajado por caminhos lindos. A estrada não era larga nem<br />
asfaltada, nem calçada, mas em compensação as árvores e os capinzais eram uma<br />
beleza. Para não falar do sol e do céu alegre tão azul. Dindinha uma vez dissera que<br />
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