21.06.2013 Views

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

José Mauro de Vasconcelos - Meu pé de laranja-lima (pdf)(rev)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Sabe, Minguinho, hoje apanhei um morcego.<br />

— O tal do Luciano que você disse que vinha morar aqui nos fundos?<br />

— Não, bobinho. Morcego <strong>de</strong> andar. A gente pega os carros que passam bem<br />

<strong>de</strong>vagar perto da Escola e gruda no pneu que tem atrás. E vai viajando que é uma<br />

beleza. Quando chega na esquina que ele vai entrar, na paradinha para ver se vem<br />

outro carro a gente pula. Mas pula com cuidado. Porque se saltar na velocida<strong>de</strong><br />

achata a bunda no chão e rela os braços.<br />

E ficava tagarelando tudo que acontecia na aula e no recreio para ele. Só<br />

vendo como ele ficou inchado <strong>de</strong> orgulho quando contei que na aula <strong>de</strong> leitura, D.<br />

Cecília Paim disse que eu era quem melhor lia. O melhor “leitureiro”. Aí fiquei<br />

com as minhas dúvidas e resolvi que na primeira oportunida<strong>de</strong> ia perguntar a Tio<br />

Edmundo se era leitureiro mesmo.<br />

— Mas falando <strong>de</strong> novo no morcego, Minguinho. Pra você ter uma idéia <strong>de</strong><br />

como é, é quase tão bom como andar a cavalo em você.<br />

— Mas comigo você não corre perigo.<br />

— Não corre, é? E quando você galopa, que nem louco, pelas campinas do<br />

Oeste quando a gente vai caçar bisão e búfalos? Esqueceu?<br />

Ele teve que concordar porque nunca sabia discutir comigo e ganhar.<br />

— Mas tem um, Minguinho. Tem um que ninguém teve coragem <strong>de</strong> pegar.<br />

Sabe qual é? Aquele carrão do Português, Manuel Valadares. Você já viu nome<br />

mais feio do que esse? Manuel Valadares...<br />

— É, sim. Mas eu estou pensando uma coisa.<br />

— Pensa que não sei o que você está pensando? Sei, sim. Mas por enquanto<br />

não. Deixe eu treinar mais... Que eu me arrisco...<br />

* * *<br />

E os dias foram se passando naquela alegria toda. Uma manhã apareci com<br />

uma flor para minha professora. Ela ficou muito emocionada e disse que eu era um<br />

cavalheiro.<br />

— Sabe o que é, Minguinho?<br />

— Cavalheiro é uma pessoa muito bem-educada parecida com um príncipe.<br />

E todos os dias fui tomando gosto pelas aulas e me aplicando cada vez mais.<br />

Nunca viera uma queixa contra mim <strong>de</strong> lá. Glória dizia que eu <strong>de</strong>ixava o meu<br />

diabinho guardado na gaveta e virava outro menino.<br />

— Você acha que eu viro, Minguinho?<br />

— Parece que acho.<br />

— É assim, pois eu ia lhe contar um segredo e não conto.<br />

Saí emburrado com ele. Mas ele nem ligou muito porque sabia que a minha<br />

zanga não durava nada.<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!