25.06.2013 Views

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo I – O PROBLEMA DO AMOR NA IDADE MÉDIA<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

CAPÍTULO I<br />

O PROBLEMA DO AMOR NA IDADE MÉDIA<br />

Para os cristãos da Europa medieval o universo é um universo cristão.<br />

Um universo cristão é um universo constituído por criaturas que <strong>de</strong>vem a<br />

sua existência a um acto <strong>de</strong> amor do Criador. Um Criador que é amor, que cria<br />

porque ama e para que as suas criaturas amem. «Deus é amor», diz S. João (1.<br />

14,16) e os homens <strong>de</strong>vem, enquanto criaturas <strong>de</strong> Deus, «caminhar no amor»<br />

amando-se uns aos outros e amando a Deus. Assim, como refere Gilson 1 , o amor,<br />

tal como o sangue no corpo daquele que anima, apresenta-se como a força, o<br />

elemento que circula no interior do universo vivificando-o.<br />

A questão filológica e a questão das fontes<br />

Este amor que domi<strong>na</strong> o universo cristão é, primeiro que tudo, um amor<br />

divino, um amor <strong>de</strong> Deus à humanida<strong>de</strong> e dos homens a Deus.<br />

O termo pelo qual <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r o amor <strong>de</strong> Deus aos homens constituiu um dos<br />

primeiros problemas com os quais os intelectuais da Ida<strong>de</strong> Média se confrontaram<br />

e apresenta-se, hoje, como um dos problemas inerentes ao tratamento da<br />

problemática amorosa medieval. Inicialmente, quando se tratou <strong>de</strong> traduzir a<br />

mensagem cristã do hebraico para o grego o verbo agapân 2 foi preferido aos<br />

verbos erân e philein 3 . Agapân possuía um sentido menos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do que as<br />

outras duas opções, prestando-se por isso, a uma inovação semântica que o<br />

podia tor<strong>na</strong>r correspon<strong>de</strong>nte à significação mais forte e profunda do hebraico<br />

aheb 4 . Por outro lado os verbos philein e erân, traziam consigo uma tradição que<br />

num caso, o do verbo erân, não convinha associar a este amor divino, e no outro<br />

caso, o do verbo philein, implicava uma carga teórica <strong>de</strong>corrente das<br />

especulações filosóficas e que, <strong>de</strong> algum modo, podiam condicio<strong>na</strong>r o sentido<br />

1 GILSON, Etienne. O espírito da Filosofia Medieval, S. Paulo, Martins Fontes, 2006, p. 352.<br />

2 Agapân: receber ou tratar com amor || amar, querer, preferir || estar contente ou satisfeito <strong>de</strong>.<br />

3 Erân: amar (com paixão) || <strong>de</strong>sejar vivamente; philein: sentir amiza<strong>de</strong>, amar || olhar como amigo, tratar<br />

como amigo, ajudar || dar mostras <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, beijar || acolher com agrado, aturar || comprazer-se em || ter<br />

costume <strong>de</strong>. ISIDRO PEREIRA, S.J.. Dicionário Grego-Português / Português-Grego, 7ªed,Braga,Livraria<br />

Apostolado da Imprensa.<br />

4 BALADIER, Charles. Érôs au Moyen Âge, Paris, Les Ed. du Cerf, 1999, p. 39-40.<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!