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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

tratou <strong>de</strong> uma resposta da qual é possível encontrar eco ao longo <strong>de</strong> todo o<br />

período medieval.<br />

Veiculando i<strong>de</strong>ias platónicas que não conheceu directamente mas através<br />

dos neoplatónicos, Agostinho <strong>de</strong>fine o amor como <strong>de</strong>sejo <strong>na</strong>mque amor appetitus<br />

est, (De div. Quaest. 83. qu. 35, 1 e 2) 26 , diz-nos, e o verbo amar traduzirá a<br />

acção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar alguma coisa. Enquanto <strong>de</strong>sejo, o amor é apresentado como<br />

uma espécie <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> força, que ten<strong>de</strong> a unir dois seres, o sujeito que ama e o<br />

objecto amado: Quid est ergo amor nisi quaedam vita duo aliqua copulans vel<br />

copulari appetens, amantem scilicet et quod amatur (De Trinitate VIII, 10,14) 27 .<br />

Como <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> algo o amor é movimento, é “impulso em direcção a”. Santo<br />

Agostinho apresenta os dois objectos possíveis para os quais o amor dos homens<br />

se po<strong>de</strong> voltar: para baixo, para os objectos terrenos, ou para cima, para Deus.<br />

Assim há dois tipos <strong>de</strong> amor: um amor que conduz o espírito para aquilo que é da<br />

or<strong>de</strong>m do mundo e que <strong>de</strong>sig<strong>na</strong> por cupiditas, um amor que Agostinho apresenta<br />

como sendo a raiz <strong>de</strong> todos os males; e um amor que atrai o espírito para Deus,<br />

para a eternida<strong>de</strong>, a caritas, apresentado como o amor que está <strong>na</strong> origem da<br />

vida feliz. Para Santo Agostinho a diferença não está no amor uma vez que<br />

ambos são <strong>de</strong>sejo, aspiração, mas no objecto do amor, e por isso se <strong>de</strong>vemos<br />

amar o amor, nem todas as formas <strong>de</strong> amor <strong>de</strong>vem ser amadas. Cupiditas é uma<br />

forma <strong>de</strong> amor con<strong>de</strong>nável <strong>na</strong> medida em que ao direccio<strong>na</strong>r o <strong>de</strong>sejo para outra<br />

coisa que não Deus, orienta o homem no sentido contrário do que <strong>de</strong>ve ser a sua<br />

vida. O homem recebeu o primeiro lugar <strong>na</strong> criação e nisto está implícito a sua<br />

aspiração para o alto, a sua elevação até Deus.<br />

O amor transforma-se assim numa espécie <strong>de</strong> lei da gravida<strong>de</strong> do espírito<br />

que, à semelhança do que acontece com a lei da gravida<strong>de</strong> <strong>na</strong>tural, atrai a alma<br />

até ao seu lugar <strong>na</strong>tural. Numa passagem das Confissões, Santo Agostinho<br />

aproxima-se <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia quando, referindo-se ao peso do amor, nos diz como por<br />

ele é levado «para o alto» para a «paz <strong>de</strong> Jerusalém celeste».<br />

O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele que me leva. O Vosso Dom<br />

inflama-nos e arrebata-nos para o alto. Ar<strong>de</strong>mos e partimos. Fazemos ascensões no coração e<br />

26<br />

Apud ARENDT, Han<strong>na</strong>h. O conceito <strong>de</strong> <strong>Amor</strong> em Santo Agostinho, col. Pensamento e Filosofia, Ed.<br />

Instituto Piaget, Lisboa, s. d., p. 49.<br />

27<br />

Apud IMBACH, Ruedi e ATUCHA, Iñigo. Amours Pluriels, ed. cit., p. 297.<br />

19

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