Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />
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com toda a tua alma e com toda a tua mente» e «Amarás ao teu próximo como a<br />
ti mesmo».<br />
Os dois preceitos indicam a medida, o quantum do amor a ser<br />
experienciado conforme o objecto <strong>de</strong>sse amor seja ou homem ou Deus.<br />
Começando pelo amor ao próximo o quantum do amor será o amor a si: <strong>de</strong>vo<br />
amar o outro, o meu próximo, numa medida igual ao meu amor a mim mesmo,<br />
pois que se o amasse menos, ou até mais, como nos diz Santo Agostinho, seria ir<br />
mais longe do que é exigido pela própria doutri<strong>na</strong>. Diferente é o que acontece<br />
quando o objecto do amor é Deus. Neste caso, a medida que é o amor a si, tem<br />
<strong>de</strong> ser ultrapassada e elevada ao infinito, traduzido pelo: «com todo o teu<br />
coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente». O quantum do amor que o<br />
homem <strong>de</strong>ve sentir por Deus não tem qualquer medida, tal é o valor do objecto<br />
<strong>de</strong>sse amor. Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval é um autor que ilustra este amor sem medida<br />
que é o amor que o homem <strong>de</strong>ve sentir por Deus. Aliás esta é uma das questões<br />
que se propõe a<strong>na</strong>lisar <strong>na</strong> obra Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, como ele próprio refere no<br />
prólogo e on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, dá uma resposta.<br />
Vultis ergo a me audire quare et quo modo diligendus sit Deus. Et ego: Causa diligendi Deum,<br />
Deus est; modus, sine modo diligere. 54<br />
Deus, <strong>de</strong>ve ser amado pelo homem mais do que este se ama a si mesmo,<br />
uma vez que Ele nos amou primeiro, ele nos amou <strong>de</strong> uma forma tão grandiosa,<br />
tão extraordinária, tão gratuita, Ele que é um ser infinito, ilimitado, cuja paz supera<br />
todo o entendimento humano, que nós, homens, diz-nos S. Ber<strong>na</strong>rdo, só<br />
po<strong>de</strong>mos amá-lo para além <strong>de</strong> toda a medida.<br />
Hic primum vi<strong>de</strong>, quo modo, immo quam sine modo a nobis Deus amari meruerit, qui, ut<br />
paucis quod dictum est repetam, prior ipse <strong>de</strong>lexit nos, tantus, et tantum, et grátis tantilos, et tales,<br />
et quod in principio dixisse me memini, modum esse diligendi Deum sine modo diligere. 55<br />
No contexto <strong>de</strong> uma reflexão medieval sobre o amor tomando como<br />
referência as especulações realizadas pelos teólogos, um amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do é um<br />
54 BERNARDO DE CLARAVAL, Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, I.1.<br />
55 BERNARDO DE CLARAVAL.Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, VI, 16.<br />
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