25.06.2013 Views

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo I – O PROBLEMA DO AMOR NA IDADE MÉDIA<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

inovador que interessava imprimir ao amor cristão. Posteriormente, aquando da<br />

tradução do texto bíblico para o latim o espectro <strong>de</strong> palavras posto à disposição<br />

dos teóricos para tratar o termo “amor” era também diversificado abrangendo os<br />

verbos “amare” e “diligere” e os substantivos, “amor”, “caritas” e “dilectio”.<br />

Segundo Charles Baladier os primeiros autores cristãos ao traduzirem os textos<br />

neotestamentários não traduziam o termo ágape, contudo no comentário às<br />

escrituras e nos escritos teológicos tendiam a usar o verbo diligere para<br />

substituírem o correspon<strong>de</strong>nte grego agapân, e os substantivos dilectio e caritas<br />

para se referirem a agapé 5 . Mário Santiago <strong>de</strong> Carvalho faz referência a<br />

Tertuliano que optará por traduzir o termo agapé pelo termo dilectio, enquanto<br />

que autores como Cipriano e Jerónimo, este último já no século IV, optam pelo<br />

termo caritas 6 . Se <strong>na</strong> produção bíblica o termo caritas, sobretudo a partir do<br />

século IV é o escolhido, os verbos diligere e amare, bem como os substantivos<br />

correspon<strong>de</strong>ntes, são os eleitos dos teólogos medievais 7 .<br />

Para além <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do esta problemática <strong>de</strong> carácter filológico, o<br />

amor divino que dominou o universo cristão medieval, foi também <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte<br />

<strong>na</strong>s especulações que tiveram o amor como objecto <strong>de</strong> reflexão, quer no que se<br />

refere aos seus autores, quer no que se refere às fontes usadas.<br />

Começando pelos autores, não é <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r que tenham sido os<br />

teólogos a chamar a si a reflexão teórica a realizar sobre este amor divino, facto<br />

que por sua vez condicionou a escolha e o tratamento das fontes a utilizar.<br />

Os textos Bíblicos vão constituir-se como a fonte privilegiada para um<br />

teólogo que <strong>na</strong> Ida<strong>de</strong> Média procure reflectir sobre o amor, não só porque são a<br />

via <strong>de</strong> acesso directo ao amor divino, mas também pela riqueza exegética que<br />

permitem. Quanto à diversida<strong>de</strong> podiam encontrar, para além dos evangelhos que<br />

integram o Novo Testamento, as epístolas dos apóstolos, sobretudo as <strong>de</strong> S.<br />

João que mais do que nenhum falou do amor a Deus, do amor <strong>de</strong> Deus, e <strong>de</strong><br />

Deus que é amor 8 , os Salmos e o Cântico dos Cânticos.<br />

5<br />

Ver, FOLLOW, Jacques et McEVOY, James. Sagesse <strong>de</strong> l’Amitié II, col. «Vestigia», Paris, Ed. du Cerf,<br />

2003, p. 69.<br />

6<br />

CARVALHO, Mário Santiago <strong>de</strong>. «Do <strong>Amor</strong> livre ao <strong>Amor</strong> como liberda<strong>de</strong>», – Amar <strong>de</strong> Novo, participações<br />

no Ciclo <strong>de</strong> Conferências da “Associação <strong>de</strong> Professores <strong>de</strong> Filosofia”, Fund. Eng. António Almeida p. 182.<br />

7<br />

O termo teólogo será usado ao longo do trabalho para <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r não só aqueles que se encontravam ligados<br />

à ciência <strong>de</strong> Deus e que reflectiam tomando os textos Bíblicos como fonte privilegiada, mas também aqueles<br />

que, ligados a essa ciência levaram a cabo uma reflexão marcada por concepções filosóficas.<br />

8<br />

Quando <strong>na</strong> obra De diligendo Deo Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval pergunta «por que razão <strong>de</strong>vemos amar a Deus?»,<br />

a sua resposta é dada com palavras <strong>de</strong> S. João: «Ipse prior dilexit nos» (I. Jn 4,10).<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!