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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo IV – O AMOR NA VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

Capaz <strong>de</strong> origi<strong>na</strong>r uma transfiguração física e uma transfiguração<br />

psicológica, a experiência amorosa é capaz <strong>de</strong> origi<strong>na</strong>r uma transfiguração bem<br />

mais profunda: a transfiguração ética.<br />

As pági<strong>na</strong>s <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> revelam no acto <strong>de</strong> amor uma dimensão <strong>de</strong><br />

purificação ética que assume um significado importante sobretudo se se tiver em<br />

linha <strong>de</strong> conta duas i<strong>de</strong>ias. A primeira é que a experiência amorosa que é <strong>na</strong>rrada<br />

em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> é uma experiência <strong>de</strong> amor humano e, assim sendo, ao atribuir à<br />

experiência amorosa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar uma transfiguração <strong>de</strong> carácter ético,<br />

tal representa uma reabilitação do amor humano, num período da história do<br />

Homem e do pensamento essencialmente teocêntrico. A segunda i<strong>de</strong>ia a recordar<br />

é que o amor humano havia sido objecto <strong>de</strong> um ataque feroz <strong>na</strong> sequência da<br />

Con<strong>de</strong><strong>na</strong>ção Parisiense <strong>de</strong> 1277, não só pelo facto do Bispo <strong>de</strong> Paris ter<br />

con<strong>de</strong><strong>na</strong>do algumas teses alegadamente atribuídas aos artistas <strong>de</strong> Paris e que,<br />

no seu enten<strong>de</strong>r, promoviam a liberti<strong>na</strong>gem sexual 137 , mas também pelo facto <strong>de</strong><br />

ter proibido a leitura da obra consi<strong>de</strong>rada como o tratado do amor cortês, o De<br />

<strong>Amor</strong>e, <strong>de</strong> Capellanus 138 .<br />

Com efeito, e voltando à obra <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, várias são as passagens que nos<br />

mostram que o ser que ama, apesar <strong>de</strong> ser um ser que sofre, é um ser que se<br />

transforma num ser melhor. Uma passagem do soneto Donne ch’avete ilustra esta<br />

i<strong>de</strong>ia:<br />

Dico, qual vuol gentil don<strong>na</strong> parere<br />

vada com lei,che quando va per via,<br />

gitta nei cor villani <strong>Amor</strong>e un gelo,<br />

per che onne lor pensero agghiaccia e pere ;<br />

e qual soffrisse di starla a ve<strong>de</strong>re<br />

diverria nobil cosa , o si morria.<br />

137 As teses, em número <strong>de</strong> seis, são as que a seguir se transcrevem a partir da obra <strong>de</strong> David Piché: «166.<br />

Quod peccatum contra <strong>na</strong>turam, utpote abusus in coitu, licet sit contra <strong>na</strong>turam speciei, non tamen est contra<br />

<strong>na</strong>turam individui.168. Quod continentia non est essentialiter virtus.169. Quod perfecta abstinentia ab actu<br />

carnis corrumpit virtutem et speciem.172. Quod <strong>de</strong>lectatio in actibus veneris non impedit actum seu usum<br />

intellectus.181. Quod castitas non est maius bonum quam perfecta abstinentia.183. Qoud simplex fornicatio,<br />

utpote soluti cum soluta, non est peccatum.». PICHÉ, David. La condam<strong>na</strong>tion parisienne <strong>de</strong> 1277, Paris,<br />

J.Vrin, 1996, p. 128-135.<br />

138 « Ne igitur incauta locutio simplices pertrahat in errorem, nos tam doctorum sacre pagine aliorum<br />

pru<strong>de</strong>ntium virorum communicatio consilio, districte talia et similia fieri prohibemus et ea totaliter<br />

con<strong>de</strong>mp<strong>na</strong>mus, excommunicantes omnes illos qui dictos errores vel aliquem <strong>de</strong> eis<strong>de</strong>m dogmatizauerint aut<br />

<strong>de</strong>ffen<strong>de</strong>re seu sustinere presumpserint quoquomodo, necnon auditores(…) Librum etiam "<strong>de</strong> amore”, siue<br />

"<strong>de</strong> <strong>de</strong>o amoris", qui sic incipit : “Coget me multum, etc." et sic termi<strong>na</strong>tur : “Caue igitur, galtere, amoris<br />

exercere mandata,etc." » PICHÉ, David. La condam<strong>na</strong>tion parisienne <strong>de</strong> 1277, Paris, J.Vrin, 1996, p. 74-76.<br />

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