Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo V – VITA NUOVA E A REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />
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avassaladores que a visão da dama produz no amante. Esta dimensão huma<strong>na</strong><br />
do amor vai-se <strong>de</strong>svanecendo à medida que se passa ao segundo grau, o do<br />
louvor. O amor transforma-se agora num sentimento que é vivido <strong>na</strong> interiorida<strong>de</strong><br />
do amante, ganha uma dimensão espiritual, a mulher amada vai abando<strong>na</strong>ndo<br />
também ela a sua condição terre<strong>na</strong> para se transformar num ser virtuoso. O<br />
discurso que acompanha este momento é um discurso no qual as referências aos<br />
estados físicos vão sendo mais escassas, facto que é indiciador <strong>de</strong> que o amor<br />
humano se transforma num amor espiritual. Após a morte <strong>de</strong> Beatriz, o amor entra<br />
numa nova fase que é também um outro grau do amor. Sendo já um amor<br />
espiritualizado vai impelir o pensamento do amante a realizar a subida espiritual<br />
até ao Empíreo on<strong>de</strong> ocorre a contemplação da bem-aventurada Beatriz que lhe<br />
vai permitir a contemplação <strong>de</strong> Deus.<br />
Convém referir que em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> não se trata <strong>de</strong> uma divinização da<br />
mulher amada. A excepcio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Beatriz, por diversas vezes referida <strong>na</strong><br />
obra 199 , serve para justificar o merecimento do amor, e em última análise, a<br />
permanência no Empíreo, lugar <strong>de</strong> Deus, após a morte. O amor que lhe é<br />
<strong>de</strong>dicado por um mortal não é, por isso um amor divino, é um amor humano, que<br />
não termi<strong>na</strong> com a morte do ser amado e que por esta razão, permanecendo<br />
sempre <strong>na</strong> sua humanida<strong>de</strong>, vai permitir ao ser que ama ascen<strong>de</strong>r até Deus. Do<br />
que <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> trata é do amor <strong>de</strong> um homem a uma mulher que é capaz <strong>de</strong><br />
conduzir aquele até Deus. Para que tal acontecesse houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
esse amor se transforma-se, que fosse per<strong>de</strong>ndo as marcas huma<strong>na</strong>s e que<br />
evoluísse para uma fase <strong>de</strong> espiritualização que ocorre quando o amor já não se<br />
sustenta <strong>na</strong> obtenção da saudação da mulher amada, mas no seu louvor,<br />
culmi<strong>na</strong>ndo <strong>na</strong> sua transformação em força que impele o ser que ama a subir até<br />
um domínio supra<strong>na</strong>tural on<strong>de</strong> se expressará <strong>na</strong> contemplação da amada <strong>na</strong> sua<br />
existência em Deus.<br />
O amor permite a <strong>Dante</strong> realizar um processo ascen<strong>de</strong>nte que o conduzirá<br />
até Deus e neste sentido o itinerário do seu amor é um itinerário que o conduz do<br />
mundo dos homens até ao mundo divino, é um itinerário do sujeito que ama até<br />
Deus que é possibilitado pelo amor à mulher e que à semelhança do que<br />
199 Ver capítulo IV, concretamente o subtítulo: «do sujeito que é amado».<br />
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